ENQUANTO A PROCISSÃO PASSAVA...

Naquele dia de Corpo de Deus,

Piamente assistia à procissão

Pr'a que não se quebrasse o ritual

E assim se cumprisse a tradição.

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Toda a minha atenção se concentrava

Naquele acto solene a que assistia,

Mal cuidando que havia na varanda

Olhos me fitando e eu não via.

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Olhos corrompidos pelo amor

Que mais tarde viriam a prender

Meu coração que cria ser só meu.

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Como pode um olhar com tanto ardor,

Tamanha ligação estabelecer

Tomando um coração que agora é seu?

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2008-07-14

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Adélia Barros

AS QUATRO ESTAÇÕES...do AMOR...

Se comparo o nosso amor
A um dia de Verão,
Fica mais belo e quente
Do que a lava dum vulcão.
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Se o comparo ao Outono
Com o vento a soprar,
Vejo folhas pelo chão
E o amor a desfolhar.
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Vem depressa o triste Inverno,
Com chuva e vento alado,
Arrefece os corações
E o amor fica gelado.
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Se o amor é Primavera,
Volta a nascer a esperança,
Mas ora há sol ora chuva,
Está de volta a indiferença.
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O amor é assim mesmo
Vive as quatro estações,
Ora quente, frio ou morno
Tal e qual os corações.
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2008-07-13
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Adélia Barros

ONTEM E HOJE...

Perdidos no meio de rosas perfumadas

Sobre tapetes rubros e aveludados,

Trocámos mil beijos.carícias e afagos

E exaustos de amor ficámos abraçados.

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Pensei fosse eterno aquele amor tão lindo

Que tantas vezes nos venceu pelo cansaço,

Mas pouco a pouco, sem nos apercebermos,

Se tornou num tédio sem beijo nem abraço.

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Fugiste? Fugimos? Que importa, se deixaste

Na minha lembrança memórias tão escuras?

A minha saudade da cor de violeta

Faz-me doer, sentindo a falta de ternuras.

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Hoje só queria deixar de ter saudades.

Acordar de manhã depois de ter sonhado

Que vivemos de novo os momentos de amor

Que enfeitaram nossas vidas no passado.

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2008-07-13

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Adélia Barros

BENDITA DOR DE DENTES...

O lume crepitava na lareira

E todos nós sentados em redor

Esperávamos a gostosa ceia

Que minha Mãe fazia com amor.

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Consumida por forte dor de dentes

Tapava o rosto com um xaile de lã,

Evitando assim o calor do lume,

Seguindo os conselhos da Mamã.

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Sentado a meu lado, condoído,

Estava meu noivo que me confortava.

De vez em quando levantava o xaile

E, furtivamente, um beijo me dava.

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E minha Mãe, que estava absorta

Na confecção da saborosa ceia,

De nada se apercebia ou então,

Sabiamente, fingia estar alheia.

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Como eram gostosos esses beijos

Trocados escondidos ao calor

Da ardente fogueira crepitante

E incitados por um grande amor.

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Não sei se era mais forte aquele calor

Que emanava do lume crepitante,

Ou o prazer daqueles beijos trocados

Fruto de amor e dum desejo ardente.

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Só sei que não sentia a dor de dentes

Que tinha passado há muito tempo

Que eu fingia que ainda persistia

Pr'a prolongar aquele doce momento.

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2008-07-12

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Adélia Barros

DESPEDIDA

Nas tuas mãos tão brancas como neve,

Nos teus olhos com lágrimas de pranto,

Adivinha-se enorme caminhada

Cheia de tantas dúvidas e espanto.

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No teu peito de corça moribunda

Há um coração que palpita aflito,

Há uma vida já quase sem força

Que procura soltar último grito.

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Nos teus lábios trementes e sem cor

Há palavras que são silenciadas,

Porque a força te falta e não permite

Que elas cheguem a ser pronunciadas.

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No caminho povoado de escolhos

Onde, mesmo sem querer, irás passar,

Há mil e muito difíceis obstáculos

Que irás forçosamente ultrapassar.

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2008-07-09

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Adélia Barros

ILHA DO SAL

Gostei de te visitar

Cálida ilha do Sal.

Recebes afavelmente

As Gentes de Portugal.

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Os nativos tão simpáticos

Dizem com muita afeição

Que o povo de Portugal

É o seu país irmão.

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És uma ilha pequena

Onde pouco ou nunca chove,

Mas a tua boa gente

Luta com vontade enorme.

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O Turismo em expansão

Vai ser a tua riqueza

E deste modo em breve

Não faltará pão à mesa.

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O Funaná e Kizomba

Animam os habitantes

E os turistas que chegam

De tantas terras distantes.

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2008-07-08

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Adélia Barros