segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

HOJE O CÉU ESTÁ MAIS AZUL...


Acordei.
Abri de par em par minha varanda.
Hoje o céu
Está mais azul que nunca.
Apenas de onde em onde,
Como se fosse uma ligeira fumaça,
Algumas nuvens brancas.
O céu mais parece
Uma tela azul
Pincelada de nuvens brancas
Que vão deslizando pelo espaço,
Esfumando-se até desaparecerem.
Eu estou feliz!
Estou de alma branca
Pintalgada de azul.
A verdade e a força regressaram
E eu estou viva novamente
Para agarrar nas minhas telas
E enchê-las de tintas
De cores variadas.
Mas onde nunca faltará
Um céu azul,
Cada vez mais mais azul!...
2008-o1-28
Adélia Barros

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

INDIFERENÇA...

Sigo-te com o olhar,
Mas finges não perceber
Minha presença.
Essa indiferença fere-me.
Não pronuncias uma palavra,
Dói-me esse teu silêncio!
Perdida na noite
Com imagens tuas,
Apenas vislumbro teu rosto
Reflectindo um brilho indiferante
Que apaga o meu sorriso.
Tua indiferença
Penetra em minha alma.
E sem querer
Deixo escapar uma lágrima,
Lágrima furtiva.
Talvez tu a tenhas visto
E não tenhas avaliado
Toda a minha tristeza,
Porque é total tua indiferença.
Por momentos tentei gritar
Tudo o que estava sentindo.
Mas fiquei parada
A observar todos os detalhes.
Procuro entender
O teu silêncio
E a tua indiferença,
Que multiplicam
Minha carência
Por não ser especial para ti !

...Adélia Barros

...24 de Janeiro de 2008

GRITO DE REVOLTA...

Quando esta manhã
Saías de casa
Com teu filho pela mão,
Fiquei admirando
Seus sapatos novos,
Sua roupa quentinha
Sua pasta linda de belo couro
E o farto lanche
Que levava para o colégio.
Tu olhaste-me com desprezo
Segurando no seu braço
Com receio que me tocasse.
Pensaste por acaso
No meu infortúnio,
Nos meus pés descalços
E na minha roupa toda rota?
Certamente esqueceste depressa
Este incidente
Mal entraste no teu automóvel
E te perdeste no tráfego
Como se perdem
Todos os meus sonhos.
Ali, só e abandonado,
Fiquei pensando:
Tantas diferenças entre mim
E aquele garoto!
Temos mais ou menos a mesma idade,
Nascemos na mesma Pátria,
Ele joga futebol com lindas bolas
Eu chuto as pedras e latas vazias,
Ele dorme em cama fofa
Eu durmo na rua no chão sobre papéis,
Ele tem comida farta e gostosa
Eu como o que cato na lata do lixo,
Ele aprende a ler e a escrever
Enquanto eu aprendo na rua
A roubar e a defender-me .
Será que eu sou culpado
De ter nascido sem saber
Quem é meu pai
E tendo como mãe
Uma mulher sofrida e pobre?
Como nada é feito
Para acabar com tais diferenças ,
No futuro será igual, se não pior.
E até será possível
Que um dia nos encontremos
Num tribunal de Direito :
Ele como juiz
Eu como delinquente.
Será que tudo isto é justo?
Não peço que me dês a mão
Pois ela é do teu filho!
Só te imploro que nunca mais
Olhes ninguém dessa maneira.
Certamente que sem indiferença
Poderemos fazer alguma coisa
Em prol do bem comum.

....Adélia Barros

...24 de janeiro de 2008

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

AOS MEUS FILHOS...

Quando eram pequeninos
Os filhos do meu amor,
Quando sentiam
Que o seu pequeno mundo
Lhes escorregava das mãos,
A sua protecção e a sua segurança
Vinham sempre através
Desta palavra mágica:
Mãe!
Nunca quis pensar
Ou nunca quis perceber
Por que razão o meu nome
Vinha sempre em primeiro lugar.
Hoje ,com o passar dos anos,
Descobri qual o motivo.
A minha figura
E a minha voz,simultaneamente ,
Grave e meiga,
Tinham o condão de os tranquilizar.
Com firmeza e imenso afecto
Vigiava seus passos,
Orientava suas atitudes
E sabia que comigo
Eles achavam tudo simples e transparente.
Foi assim na sua meninice,
Sua adolescência e juventude.
Os anos foram passando
E tudo parece diferente.
Mas eu sinto, e preciso acreditar,
Que ainda hoje
Sentem vontade
De gritar pelo meu nome:
Mãe!
Que não duvidam
Da minha presença constante
E crêem que nunca partirei.
Não duvido que às vezes
Por vergonha
Ou orgulho de gente adulta,
Não confessem seus desejos íntimos
De chamar bem alto:
Mãe,
Preciso de ti
Do teu colo,do teu abraço,
Do teu carinho,do teu amor.
E agora, olhando
Os meus cabelos brancos,
O meu rosto marcado pelas rugas,
As minhas mãos,
Estas mãos que tantas vezes
Os apertaram contra o peito,
Afagaram seus cabelos,
Agarraram seus rostinhos
Para neles depositar milhões de beijos,
Começam a deformar-se
E a doer de vez em quando.
Mas meu coração,
Esse não embranquece,
Não enruga,não deforma.
Mantém-se sempre
Cheio de amor,
Compreensivo e pronto a perdoar.
Eu não sou Deus, meus filhos,
Tenho minhas falhas,
Mas não sinto vergonha,
Porque é muito fácil,
Compreendermos tudo:
A mentira,a realidade e o sonho.
Isto permite-me viver,
Fazer da minha vulnerabilidade
Uma força
Que não me deixa desperdiçar a vida.
Não me contento com despojos,
Reivindico o que é meu por direito:
Ser feliz!

....
Adélia Barros

....23 de Janeiro de 2008

domingo, 20 de janeiro de 2008

QUERIA TER ASAS...E VOAR

Queria ter asas para voar
Fugir de mim mesma
Sem olhar para trás.
Queria ter asas para voar
Descobrir novos mundos
Novos rios novos mares
Novos continentes.
Voar até novos planetas,
Tocar estrelas
Brilhantes cintilantes
Que iluminam minha noite,
Noite interior
Que teima em persistir
E aumentar minha escuridão.
Se o pensamento
Fosse fácil de comandar
Talvez eu pudesse voar,
Voar sem precisar de asas.
Ir nas asas do pensamento,
Tornar meus sonhos realidade.
Queria voar
E encontrar um mundo
De paz e amor
Entre todos os povos.
Voar até ao fim
Daquele arco-íris colorido
Que me deixa perplexa,
Pensativa ,curiosa
Por saber o que se esconde
Para lá daquela ponte luminosa
Que parece abraçar o céu
Com desmedido amor.
Queria ter asas,
Fechar os olhos,
Abrir meus braços
E deixar que eles me guiassem
Até ao infinito.
E assim sentir o gosto
Da Liberdade plena.
Como asas não tenho,
Deixo-me estar
Neste meu mundo
Onde o pensamento
Não tem vontade própria
E o sonho me traz de volta
Todos os momentos
Que me fizeram sorrir.

....
Adélia Barros

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

BORBOLETA FELIZ...


Que vida bela
Tem a mariposa
Poisa no cravo
Poisa na rosa.

......

Pode escolher
Qualquer flor
Delas leva o pólen
E deixa o amor.
......
Beija-as com carinho
Com muita ternura
Com asinhas leves
De doce candura.

......

Que importa se a vida
Só dura um instante,
Um dia ,uma hora
É mesmo indiferente.

....

Enquanto durou
Ela foi feliz
Viveu a seu gosto
Fez só o que quis.

....

Ninguém lhe tolheu
Sua liberdade
Viveu sua vida
Vida de Verdade

....

Seus muitos amores
Que abraçou ,beijou
Ficaram chorando
Quando se finou

....

Choraram de noite
Para ninguém ver
Como foi profundo
Tamanho sofrer.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

DEIXA-ME DIZER-TE...

Deixa-me dizer-te
Que tenho saudades
Daquelas conversas
Que tínhamos pela noite dentro
Quando me contavas
Como passaste o dia.
Deixa-me dizer-te
Que sinto falta daqueles tempos
De que eu tanto gostava.
Deixa-me dizer-te
que sinto falta de estar contigo,
De como me falavas das tuas alegrias
E fazias de mim tua confidente.
Lembro-me do teu humor,
Por vezes bem difícil.
Tenho saudades
De quando tu, num rompante,
Me ferias a alma,
Mas logo a seguir
Me lambias as feridas
De uma discussão mal digerida.
Deixa-me dizer-te
Que sinto falta
De quando tu apaziguavas
Os meus estados de alma.
Como foi possível
Que o teu espaço
Se desintegrasse do meu espaço?
Que tudo se desmoronasse
Tão drasticamente
E não restasse nada
Desse carinho,
Dessa forte ligação
Que prendia teu espírito ao meu,
Desse amor que sempre nos uniu?
Desses laços que eu atei
Com tanta força e sacrifícios
E que tu desataste ,
Sem dó nem piedade,
Sem pensares como isso
Dilacera minha alma
E deixa em cacos
Este coração que continua
A amar-te sem conta nem medida!

........14 de Janeiro de 2008

........Adélia barros

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

AFOGA SANTOS...

Há muitos ,muitos anos num pequenino povoado da aldeia de Barqueiros ,aldeia situada na margem direita do rio Douro,habitavam algumas dezenas de pessoas.Entre essas pessoas ,todas muito humildes e necessitadas,distinguiam-se duas muito especiais:avó e neto.
Viviam num casebre muito pobre a que eles pomposamente chamavam sua casa,porque era a única que conseguiam ter, dada a sua precária situação financeira.A avó era muito velhinha,cansada das agruras da vida , vergada ao peso dos anos e com muito pouca saúde.O neto ,de nome Francisco,era ainda muito pequenino para trabalhar.
Viviam com muitas dificuldades.A avó, para garantir o seu sustento e em especial o do neto do seu coração,percorria a sua aldeia e outras aldeias vizinhas ,pedindo ajuda.
Havia dias mais produtivos que outros,mas à tardinha,regressava sempre cansada e envergonhada da sua triste condição de indigente À porta de casa esperava-a ansioso e faminto o pequenino Francisco.Sempre a mesma pergunta:que traz aí ,avó ? Eu apanhei lenha na mata para a avó acender a lareira!
E os dois, de mãos dadas,dirigiam-se ao interior da casa.A avó pousava sobre a velha mesa de pinho o fruto da caridade humana que naquele dia se tinha compadecido dela.O Francisco remexia nervosamente aquele tesouro na esperança de encontrar alguma coisa que lhe matasse a fome.A avó, passando a sua mão enrugada pelos cabelitos do menino,com sua voz rouca dizia-lhe:
-Espera só mais um pouco e a avó vai fazer uma panela de sopa que irá consolar-nos, acompanhada da broa que me deu a vizinha.
E o Francisco esperava pelo manjar, contendo a saliva que lhe enchia a boca.
Comida a tão ansiada sopa que, quase sempre, tinha apenas alguma batata ,couves e era engrossada com farinha de milho,avó e neto deitavam-se na única cama que havia na casa ,rezavam as suas orações e adormeciam tranquilamente.
Na aldeia, no Inverno,as pessoas abastadas matavam os seus porcos que lhe garantiam a subsistência durante todo o ano. E havia sempre alguém que se lembrava da triste velhinha que fazia das tripas coração para que o seu menino tivesse todos os dias alguma coisa para comer,dando-lhe um bocadinho da carne do porco que matou.
Próximo do Carnaval,uma vizinha deu à avó do Francisco uma chouriça.Ela guardou o acepipe para comer no Entrudo,mas avisou-o:
-Olha que a chouriça é para comermos no Carnaval,está guardada no armário ,mas não lhe toques!...
Todos os dias a triste anciã saía para a sua rotina e o Francisco ficava em casa aguardando o seu regresso.De vez em quando abria o armário onde a chouriça esperava pelo Entrudo para fazer as delícias dos seus amigos.
Imagine-se o sacrifício que aquela criança fazia para resistir à tentação de saborear a chouriça
proibida! Mas tantas vezes abriu o armário,e certamente por vezes com muita fome,que um dia não resistiu e comeu o petisco.
Quando a avó se apercebeu do desaparecimento do tesouro, perguntou ao neto quem o tinha comido.Claro que o Francisco não confessava que tinha sido ele.A avó desesperava sempre que fazia a pergunta,mas obtinha sempre a mesma resposta:não fui eu.
Tinha de descobrir uma artimenha que fizesse o Francisco dizer a verdade.E conseguiu.
Lá em casa havia uma imagem de S. António muito antiga esculpida em madeira.Então a velha senhora chamou o neto junto da imagem e fez a pergunta:-S António quem comeu a chouriça? Esperou alguns segundos e ,com voz disfarçada ,ela própria deu a resposta:-Foi o Francisco.Perante esta resposta do santo ele não teve saída.Teve mesmo de confessar.
A avó deu uma valente sova no Francisco que ficou furioso com o S. António ,por ter descoberto o seu segredo e logo nesse instante jurou vingar-se.
No dia seguinte ,logo que a velhinha saíu ,o Francisco pegou na imagem ,meteu-a num saco de pano,amarrou-lhe uma corda,pô-la às costas e dirigiu-se à margem do rio Douro.Atirou-o à água para que se afogasse.Mas como a imagem tinha muitos anos ,estava toda carunchosa. Em vez de ir ao fundo como ele desejava, vinha à tona da água ,expelindo lufadas de caruncho como se estivesse a soprar.O Francisco desesperado com a situação repetia constantemente:-Tu, meu malandro até agora falavas e agora bufas?Mas tens de ir para o fundo do rio.Então puxou o saco para fora da água,abriu-o e colocou dentro uma grande pedra. Voltou a arremessá-lo para a água e desta vez estava vingado;o S.António afogou-se.
Regressou a casa e aguardou a chegada da avó.Esta ao dar pela falta da imagem, perguntou-lhe:
-Onde está o Santo?
Ao que o Francisco respondeu sem mais rodeios:
-Afoguei-o no rio!
A avó ficou sem palavras ,porque entendeu a atitude do neto.
O Francisco sentiu-se vitorioso e contou o seu feito a todas as pessoas da aldeia.A partir daí todos passaram a chamar-lhe o Afoga Santos.E esta alcunha passou para os filhos,para os netos e demais gerações que se lhe seguiram.
Ainda hoje em Barqueiros há descendentes do Afoga Santos que continuam a ser conhecidos por esse mesmo epíteto.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

OLHANDO O CÉU...


Olhando o céu
Vi que não estava sozinha,
Que o mundo é grande,
Que a vida é complexa,
Mas não é assustadora
E é possível vivê-la.
.............
Olhando o céu
Vi uma grande esperança
De que serei sempre
Uma criança.
..........
Olhando o céu
Senti que devia sonhar sempre,
Acreditar nos sonhos,
Pois só assim serei capaz
De os tornar realidade.
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Olhando o céu
Vi um pássaro voando,
Gritando em silêncio:
Liberdade, liberdade!
..........
Olhando o céu
Vi uma força imensa
Que existe em tudo.
Uma energia incomensurável
Que vence todas as coisas.
..........
Olhando o céu
Compreendi que uma vida
Espera por nós.
Mas para ser feliz
Temos de viver cada momento
Como se fosse único.
..........
Olhando o céu
Vi amigos sorrindo
De mãos dadas,
Porque assim é mais fácil viver,
É mais fácil ser humano.
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Olhando o céu
Senti momentos sublimes
Que penetram no nosso interior
E se tornam eternos.
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Olhando o céu
Vi-me com toda a liberdade
E capacidade de amar.
..........
Olhando o céu
Senti que voar é possível
Mesmo sem asas,
Basta sonhar e amar!...
..........
Adélia Barros

DE VOLTA À PRAIA...


Tinha os pés na água e gostava.
Na água sentia-me de volta
Aos tempos que levava meus filhos
Gozar dos benefícios do mar.
Por muitos anos
Cumpri esse mesmo ritual.
A água fria arrepia a alma
E refresca o corpo quente.
Por alguns anos
Deixei de ir à praia,
Mas voltava agora,
Não porque tinha de voltar,
Mas por vontade
De reviver o passado
Que tentava deixar para trás.
Enquanto baloiçava os pés
Molhava as mãos
Que levava à boca
Para sentir o sal,
O sal da água, o sal da vida.
Estando na água
Voltava a algum lugar,
Lugar onde talvez
Nunca tivesse estado,
Mas que era um lugar
De onde sentia muitas saudades:
O meu lugar do Mundo...
Voltava ao mar
Para voltar a mim,
Mas também para me inundar
De outras sensações.
Na minha mente passava um filme
Com os melhores
E os piores momentos
Junto dos meus melhores amigos.
À medida que as cenas passavam
Eram levadas pelas ondas
Que me beijavam os pés,
Até que descansassem
Em algum lugar no fundo do mar.
Já só esta imensidão
Poderá suportá-las.Eu não...
...........
Adélia Barros

CAMINHANDO NA AREIA MOLHADA...


Caminhando na areia molhada
Olhando o mar
Que espraia suas águas
Na praia extensa.
É hora do por-do-sol.
A luz reflectida nas águas
Imprime-lhe matizes
De vermelho e laranja.
É um convite à reflexão.
Continuo o meu percurso
Em círculos confusos,
Perdida na memória dos meus passos
Que o mar bravio
Nao consegue apagar.
Caminho,caminho
Sozinha,abraçada
Aos restos de Alguém,
Na esperança que esta caminhada
Possa trazer algum sentido
À minha vida tão solitária.
A areia começa a ficar fria,
Porque o sol já não a aquece.
Desapareceu no horizonte,
Mergulhando seus raios cor de fogo
Nas águas revoltas do oceano.
A noite chega de mansinho.
Paro por momentos...
Talvez esteja cansada.
Vejo minhas pegadas
Na areia molhada.
Nem a espuma branca
Que as ondas deixam atrás de si
Conseguiu apagá-las.
É que o peso das minhas angústias
Deixaram sulcos profundos
Na areia e na minha alma.
Esta alma que escavo com as mãos
E nada encontro,
Porque há muito que sei
Que ela é um vazio enorme...
........
Adélia Barros