segunda-feira, 20 de agosto de 2007

A ti meu Pai

Ser Pai é muito mais que procriar!
Ser Pai é amar,caminhar,educar sonhar,incentivar,apoiar vibrar,amparar,acalentar e muitas vezes, renunciar!
Ser Pai é ser assim como tu foste ,Pai:amigo ,presente
,parceiro o tempo inteiro.

Quero perceber tudo com calma mesmo no meio da correria.Sentir que a vida é quente mesmo quando se diz que é fria.
Quero fazer da vida um canto mesmo sem melodia. Quero amar as pessoas sejam elas quem forem !
As palavras são como as aves:voam, voam e às vezes pousam!
Também meus pensamentos voam e levam as suas asas invisíveis por todos os cantos da casa.
Procuro -te , Pai ,mas não te encontro!!!
Correste tanto ,tanto ,Pai ,e por fim paraste!
A tua hora, Deus achou por bem fazer chegar!
Lutaste muito, mas realmente só Ele pôde intervir no teu sofrer.
Deste-me tantas alegrias e esperanças! A nossa vida parecia um paraíso!Quando te foste, foi doloroso aceitar a vontade de Deus.
Sofreste tanto durante muitos anos ,mas tive de enfrentar o teu sofrer com altruismo ao perceber que Deus estava carente de te ter no Céu ao pé de Si.
O tempo passa e com ele envelheci; talvez um dia estejamos reunidos em outro plano,bem juntinhos, com a Mamã e todos os entes queridos!
Pai ,chegaste a gozar a presença dos teus netos que te amaram tanto e continuam a amar.
Deus não permitiu que conhecesses os teus bisnetos. Como tu os terias amado! Mas deixa ,Pai :eu amo-os por nós os dois!
Descansa Pai e obrigada!!!

20 de Maio de 2007 (Dia do teu aniversário)

Adélia Barros

sábado, 18 de agosto de 2007

Saudade

A Saudade vive numa casa pequenina chamada Memória num cantinho do coração.
Saudade é não ter perto quem se ama e de repente eu mesma não me bastar.
Saudade é o muito de alguém dentro de mim e que talvez esse alguém nunca o tenha sabido.
A casa da Saudade é um lugar para brincar com pensamentos e ideias, para partilhar a impossibilidade da presença e de imaginar tudo o que talvez nem tivesse existido.
A Saudade é um lago transparente a reflectir as imagens de pessoas ausentes.
Saudade é regressar. É uma estrada que nos conduz a alguém que muito amàmos.
Quando a Saudade chega, uma brisa dolorida, mas reconfortante, invade a alma de quem a sente.
Dizem alguns que a Saudade mata! A Saudade não mata: é apenas um sentimento doloroso. Doloroso porquê? Porque dói não olhar nos olhos, não sentir o toque daquelas mãos macias, não ouvir o respirar daquele ser que me tirava o chão,que me fazia caminhar sobre algodão doce, que me fazia voar no céu azul repleto de estrelas....Mas que serve para me lembrar que esse ser existiu e ainda sinto a sua falta.
A Saudade é um sentimento a que apenas os felizardos têm direito. Os infelizes têm-no como obrigação e tudo o que acontece deste modo ,dói.
A Saudade existe,não porque estamos longe ou porque perdemos alguém a quem amàmos,mas sim porque algum dia estivemos juntos.
A Saudade não devolve os entes queridos,mas faz crescer o sentimento de tal maneira, que, muitasvezes, transforma lágrimas em paraíso.
Saudade nunca me abandones!!! Bendita sejas!!!

18 de Agosto de 2007
Adélia Barros

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

ELOGIO da MULHER ACRÓSTICO



Meiguice, mão-cheia , maternidade

Ufana, undiflava, uberdade, unanimidade

Lisura, licor da vida, lealdade

Humanidade, humildade, hospitalidade

Elegância, embriaguez, espiritualidade

Rectidão, resplandecência , realidade


17 de Agosto de 2007

Adélia Barros

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

AS FLORES SÃO O MEU ESPELHO!...

Sentada no jardim onde costumava descansar
nas tardes calmas dos fins da Primavera,
olhava com atenção as variegadas flores
de cores,tamanhos e formas diversas.
Em cada uma me revia e descobria
uma parcela dos meus recônditos sentimentos.
Num dos canteiros bem em evidência
se salientavam as rosas.Essas ljndas flores
que me faziam pensar que o amor
sobrevive à morte.
Eu acredito no renascimento do amor profundo.
Sou,penso eu,uma rosa também!...
Mas lá mais adiante um arbusto de
jasmins branquinhos, perfumados,fazia
realçar sua elegância.E eu murmurava baixinho:
sou um jasmim, também já fui muito elegante.
Num canteiro, ao centro do jardim,
ressaltavam os malmequeres, as tulipas
e as violetas revestidas da sua perseverança
e humildade.
Como eu me sinto uma destas flores,
humilde e perseverante:-sou uma violeta,
uma tulipa ou um singelo malmequer.
E os crisântemos que espreitam lá no canto
e teimam em dizer:-estou apaixonado!
Também já fui apaixonada-sou um crisântemo!
E aquela cameleira que lá no fundo do jardim
me olha carregadinha de flores de beleza esbelta?
Já fui bela um dia, já fui uma camélia!...
E debaixo da bela cameleira, muito escondidinhos
aparecem os miosótis, lembrando um amor
verdadeiro como aquele que já tive um dia
-Já fui um miosótis, miudinho da cor do céu.
Tenho algo de narciso,porque sou vaidosa;
tenho algo de girassol, pois sempre busquei
e continuo buscando o Sol.
Sou um amor-perfeito, porque continuo
pensando em vós, meus filhos, meus netos, meus amigos.
Mas não sou uma coroa imperial, um antúrio,
um amarílis, porque nunca fui arrogante.
deslumbrante, nem tive ânsias de poder ou exuberância.
Não sou uma anémona, porque nunca me senti
abandonada;-Não sou uma dedaleira,
porque nunca fui falsa.
Sou uma madressilva perfumada, delicada.
Sou uma prímula, pois nunca perdi a minha juventude.
E depois destas considerações feitas
em silêncio só comigo, concluí: sou o que sou
e serei sempre assim nos tempos
de vida que me restam!...

16 de Agosto de 2007

Adélia Barros

EU SOU O MAR !...

Olhando o mar,
sentindo o odor da maresia,
ouvindo o marulhar das águas,
seguindo o movimento de vaivém
das ondas que preguiçosamente
se espalham na praia
e rapidamente voltam
ao seio daquele mar
que não deixa as suas águas
repousarem nem por um segundo.

Medito e comparo...
Sou como o mar
com perfume de alecrim e rosmaninho
e não de maresia.

O turbilhão dos meus pensamentos
provoca um marulhar
que só eu consigo ouvir.

As ondas do meu coração,
umas vezes céleres,outras preguiçosas,
apenas são sentidas só por mim,
porque me recuso a partilhá-las.

E esta inquieta luta
para esconder dos outros
o que me faz sofrer,
faz de mim um mar revolto,
mas que todos crêem tranquilo
sem ondas,sem marés,sem correntes.
Águas tranquilas ,
com cataratas de surda explosão!...

15 de Agosto de 2007
Adélia Barros

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

« A LUA dos AMANTES »


Lá no alto a Lua cheia
Sem nuvens
A toldar-lhe o brilho
Que o Sol lhe transmitiu
Feliz porque pode iluminar
Os amantes que escondidos
Debaixo de alguma árvore frondosa
Ou numa praia solitária
Se amam sem cessar
Até as forças lhe faltarem.

Com corpos suados de prazer
Lábios vermelhos de tantos beijos trocados
Cabelos desgrenhados
Mãos inquietas
Percorrendo o corpo do amante.

Só quando a Lua
Começa a desaparecer,
A brisa da manhã soprando
Lhes refresca os corpos escaldantes
Percebem que é hora
De abandonar aquele deleite
Porque outro dia está a despontar.

E num beijo prolongado
Despedem-se da Lua e dizem:

ATÉ BREVE.....
Gaia ,9 de Agosto de 1933
Adélia Barros

sábado, 4 de agosto de 2007

« CONTOS » 1º


,- Vamos aproveitar o fresquinho da manhã para viajarmos até à minha aldeia onde gostaria de vos mostrar alguns dos encantadores lugarejos que tornaram a minha infância inesquecível.
-Mas, Avó, como tu tornas mágico cada momento e cada lugar por onde passas, irás falar-nos e mostrar-nos apenas um lugar em cada visita que façamos a esta terra situada nas faldas do Marão e sobranceira ao irrequieto rio Douro que corre indiferente a tudo que lhe fica nas margens.
-Combinado!
E nesta alegre cavaqueira os quilómetros foram sendo tragados pelo "Golf "que,embora antigo, não está velho.
Lá chegamos ao "Miradouro",à casa onde nasci,me criei ,ri ,chorei e me diverti.
Muitas lembranças fervilharam na minha mente. Procurei acalmar o turbilhão de recordações e concentrar-me apenas numa .
Foi difícil seleccionar um episódio entre tantos que me deliciam a memória e me causam tantas saudades!
Mas, ao olhar para o velho salão que durante tantos anos serviu de moradia ao nosso" Zé Maria",ocorreu me a chegada deste elemento à nossa casa.
-Eu tinha cinco anos. Estavamos em fins de Setembro!
As uvas,regalo das abelhas que voavam em sua volta e lhes sugavam o doce suco, pareciam dizer:"estamos prontas para ser colhidas e trnsformadas no delicioso néctar dos deuses."
-E na verdade,as vindimas começaram. Essa faina tão alegre,com as vindimadeiras cantando todo o dia, cortando as uvas e metendo -as nos cestos que iriam ser levados às costas para os lagares. Aí seriam pisadas e transformadas em vinho.
A subida íngreme dos carreiros tortuosos da quinta, eram calcorreados várias vezes ao dia pelos "homens dos cestos "cheios de uvas ,até cairem dentro dos lagares.
Nas viagens de regresso à vinha com os cestos vazios ,eu aproveitava a boleia dentro de algum dos cestos nas costas de qualquer bom homem que me transportava até junto das vindimadeiras para cantar com elas as alegres cantigas que eu sabia de cor e salteado. E para merecer uns trocaditos no fim da vindima lá ia apanhando uns bagos que caíam no chão.
- E agora imaginem em que estado eu chegava ao fim do dia ,viajando dentro dos cestos impregnados de mosto doce e pegajoso!
-Mas quê?-nada que um bom banho antes do jantar e uma camisinha de noite fresquinha e perfumada pelos aromas dos campos,não repusessem as minhas energias!
-Mas,continuando com a história linda e comovente do nosso Zé maria que passou a ser um membro da nossa família.
-Era uma tarde calma e morna de Setembro e eu estava no quintal com a minha Mãe a regar os canteiros de lindos ,coloridos e perfumados cravos e outras flores que enfeitavam o muro sobranceiro ao caminho público.
Lá no fim do caminho ,chamado " Parede Nova ",assomou uma figura masculina franzina e assustada. Eu não o conhecia ,mas minha mãe clamou admirada: É o Zé Maria do doutor!...
-Então, Zé maria, que te traz por cá depois de tantos anos?
-Venho ver a minha tia...
-E aquela figura de menino assustado que vestia uma calça de sarja,uma camisa de riscado azul,boina galega na cabeça e descalço,mesmo depois de ser tão maltratado pela "tia ",companheira do seu pai que havia falecido há bastantes anos, ainda se lembrou de a vir visitar.
Ele tinha desaparecido da aldeia fustigado pelos maus tratos e durante muitos anos serviu alguns lavradores,tratando o gado, segando erva, ao frio, à chuva, com neve ou com sol intenso.
E agora com vinte e três anos, anos de fome, trabalho árduo, sofrimentos e saúde precária, o " Zé Maria "regressava à aldeia, pobre, desiludido e procurando um bocadinho de carinho.
Mas infelizmente não encontrou nada do que tanto ansiava.E a tia recebeu-o, oferecendo-lhe dormida num palheiro.
Como era a época das vindimas o nosso Zé Maria procurou trabalho nas quintas das redondezas, onde cortava uvas de dia e à noite nas "pousas ", isto é ,na pisa das uvas nos lagares. E como a quinta dos meus pais era a mais próxima da casa da "tia ",foi aí que ele mais trabalhou.
E numa tarde no lagar,surgiu a feliz ideia de propor ao Zé Maria se queria ficar na nossa casa a tratar da vaca e do cavalo. Escusado será dizer que essa ideia brilhante partiu de mim e dos meus irmãos. Fomos transmiti-la aos nossos pais que acederam de bom grado. E deste modo simples, porque simples éramos nós, crianças a quem nada faltava, trouxemos para a nossa família mais um elemento que ficou connosco quase sessenta e cinco anos.
Nessa tarde já ficou na nossa companhia. Não voltou à casa da tia, porque não tinha nada que buscar, pois tudo o que possuía, tinha consigo:as calças de sarja, a camisa de riscado e a boina galega.
O sr. Manuel, feitor da nossa casa, levou-o ao salão e numa banheira de zinco, o mais sofisticado dessa época, com água quente e sabão deu-lhe um bom banho, cortou-lhe o cabelo rente para o livrar da camada de parasitas que lhe faziam companhia.
Vestiu-lhe roupa lavada do meu irmão mais novo, que lhe assentou que nem uma luva, porque o Zé Maria,era magro e pequeno, pois a fome, o frio e os maus tratos não o deixaram desenvolver.
O sr. Manuel verificou que o novo elemento da nossa família tinha no meio do peito uma ferida enorme e profunda, com muito mau aspecto.
Dali partiu para a consulta na " Casa do Povo". O médico,um santo homem de nome " Dr Loureiro Dias",sossegou o meu pai comunicando-lhe que a ferida não era maligna e que com muitos cuidados iria curar-se. Foi medicado e quem todos os dias lhe fazia o curativo era a minha Mãe, com a ajuda do meu irmão Noberto.Durou algum tempo a sarar, mas ficou bom ,graças a Deus e à boa enfermeira que era a "D. Palmirinha".
OS anos foram passando, o Zé Maria foi-se recompondo, porque agora tinha uma "Família".Mas de todos os membros que a constituiam, por quem ele nutria um amor incomensurável era pela sua menina a quem ele apelidava de "Alegria desta Casa".Era a menina que ele muitas vezes levava à escola ,ia buscar à "Rede" estação do caminho de ferro,quando ela vinha do colégio para gozar as férias,acompanhava à vila para carregar os sacos das compras e em tantos momentos que terei ocasião de mencionar.
O Zé Maria proporcionou-me muitas horas de alegria e ,sem saber, ajudou-me a formar o meu carácter. Tornei -me,dia a dia ,mais humana,revendo-me naquela figura que não teve infância, não teve adolescência e que só começou a viver a partir daquele dia em que todos concordamos que ele ficava a fazer parte da nossa família.
-E ,meus queridos netos,isto é,em resumo,a história do nosso "Zé Maria...
Irei falar dele muitas vezes noutros episódios da minha vida.

Adélia Barros