segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Tamarilhos


No quintal duma vizinha
Havia uma árvore frondosa
Que me chamava a atenção
Sempre que por lá passava.
Tinha os seus ramos espalhados
Numa ramada tão alta
Que era preciso trepar
Com a ajuda duma escada
Para colher os seus frutos
A que os donos apelidavam
De "Tomates Brasileiros".
Algum tempo se passou
Até que tomei conhecimento
Que os famosos "tomates"
Eram bons comidos como os maracujás:
Em salada, abertos ao meio
E comidos à colher, com ou sem açúcar.
Certo dia, às compras num hipermercado,
Vi num expositor uma caixinha com os vermelhos frutos.
Não foi só a cor rubra que me chamou a atenção.
Foi o seu preço e sobretudo o seu nome
Que de tomates não tinha nada.
Na etiqueta eu li:"Tomarilhos".
E foi assim que eu passei a chamar-lhe.
Mas, pelos vistos, estava errada.
Agora ,através da INTERNET,
A que há pouco tempo tenho acesso,
Fiquei a saber que o seu nome científico
É:Tamarilho ou Tamarillo.
Tomates brasileiros,tomarilhos ou tamarilhos,
QUE importa?
Só sei que são muito bons e eu gosto!

27 de Novembro de 2007
Adélia Barros

Os meus primeiros dias de escola


Logo de manhã cedinho

Passava pelo caminho

Montada num jeriquinho

A senhora Professora

Que vinha de muito longe.

Debruçada na janela

Esta menina ladina

Mais parecia a Carochinha.

Mas em vez de questionar

Quem queria casar com ela,

Acenava com a mão

Em jeito de cumprimento.

Os dias foram passando.

Mas um dia, há sempre um dia,

Ela encheu-se de coragem

E na sua voz cantante

Ansiosa perguntou:

Ó Senhora Professora,

Posso ir para a sua escola ?

Eu gostava de aprender

A ler e a fazer contas!

Que idade tem a menina?

Mais parece um passarinho

Que há pouco deixou o ninho.

E já quer voar,voar

Sem medo de tropeçar

Nas pedras do seu caminho?

Eu não sou um passarinho,

Sou uma menina igual

Às que andam na sua Escola.

Se não tiver uma carteira

Para me sentar junto delas

Levo um banquinho de casa

E fico muito quietinha

Junto da senhora Professora.

Este singelo pedido calou fundo

No coração da Senhora

Que resolveu aceder e levar a pequenita.

Fui então só por uns dias

E lá levei um banquinho,

Pois não havia carteira

Onde pudesse sentar-me.

O tempo foi passando ,eu fui ficando

E aprendendo.

E a minha Professora, D. Alda era o seu nome,

Bendisse o dia em que me levou consigo.

26 de Novembro de 2007

Adélia Barros

Em jeito de esclarecimento:

domingo, 25 de novembro de 2007

MENINA TRAQUINA




Menina traquina
Brincava ,saltava ,corria
Nos campos verdejantes.
Colhia flores
Apanhava borboletas descuidadas,
Subia às árvores
Apanhava fruta
Ora verde ,ora madura
Fresquinha demanhã
Quente pela tarde.
Que dor de barriga
Gritava a menina.
Um chá de cidreira
Curava todos os males.
Tanto chá tomou
A menina traquina
Que depois que cresceu
Toma qualquer chá
Menos de cidreira
Tamanha aversão
Ou congestão lenta
Apanhou dessa tisana.
Hoje já não corre
Não sobe às árvores
Não faz traquinices
Com grande pesar.
Porque o peso dos anos
Não permite tais devaneios.

25 de Novembro de 2007




Adélia Barros


Lançamento do livro da Teresa-"CARDOS e QUIMERAS "

A Teresa ,gentilmente , convidou-me a ler um dos seus poemas. Escolhi o poema da pag. 22-"JÁ CORRI DEMAIS ".Não foi à toa que preferi este. Escolhi-o ,porque achei que eu me revia um pouco no seu conteúdo.Também eu corri demais ,porque a vida o exigiu .Porém ,agora é tempo de abrandar a marcha e saborear a vida.
Parabéns ,Teresa, continue a escrever e conte comigo para ler os seus poemas.
Um beijo da amiga ,
Adélia

25 de Novembro de 2007

sábado, 24 de novembro de 2007

AS DESFOLHADAS DO MILHO


O Outono é uma das estações do ano mais rica em colheitas agrícolas:colhem-se variados frutos ,legumes e hortaliças.É também nesta época que se faz a colheita do milho .Na quinta dos meus Pais havia bastante milho para ser colhido .Nem todos os campos eram semeados ao mesmo tempo ,portanto ,as espigas iam amadurecendo com intervalo de alguns dias.
Consoante ficavam prontas ,iam sendo colhidas. Era uma intensa azáfama. Todos eram poucos para colher as espigas de cada campo.Enquanto uns cortavam as espigas e as colocavam em grandes cestos ,outros transportavam-nas às costas para a eira ,se estivesse bom tempo, ou então para um grande salão ,se houvesse ameaça de chuva.
À noite ,no fim do jantar, juntavam-se os amigos da vizinhança, para dar início à desfolhada que consistia em livrar as douradas espigas do folhelho que as revestia .
Este trabalho redundava numa animada festa.Toda a gente se sentava no chão à volta do monte das espigas e cada um procurava desfolhar o maior número possível de maçarocas para que a faina acabasse depressa. Todos estavam atentos ,porque ,se algum dos participantes encontrasse uma espiga vermelha ,tinha de correr a roda ,dando um abraço em cada um.E não havia desculpas!...Mas não ficava por aqui a brincadeira. De vez em quando aparecia uma espiga cujos grãos eram dourados ,pintalgados de vermelho.E então a brincadeira redobrava de intensidade:agora , o felizardo que encontrasse uma espiga assim ,tinha de ir roubar um beijo a cada um dos presentes. Era ver como alguns mais envergonhados procuravam esquivar-se ao cumprimento da tradição.Mas por fim tudo se resolvia a contento.
Por que razão estavam todos ansiosos pelo fim do trabalho?É que havia sempre um ou mais tocadores de concertina ou viola que animavam a festa com as suas músicas e toda a gente dançava. Aparecia sempre alguém que cantava ao desafio e o serão redobrava de entusiasmo.
A noite já ia alta quando a função acabava, mas antes da retirada era servida uma pequena merenda que constava de broa ,azeitonas, sardinhas e a famosa pinguinha do maduro que aquecia os corações e ajudava na viagem de regresso a casa.
E eu não perdia nem um minuto desta faina:ajudava a colher as espigas ,desfolhava as que podia e participava em todas as brincadeiras.Era, sem dúvida, a participante mais animada.
Quando terminava uma desfolhada ,esperava ansiosa pela próxima.
Eram fainas animadas ,mas que actualmente não se repetem ,porque todo o trabalho está mecanizado.Porém , é com muito prazer que relato estes trabalhos que ,embora penosos, davam imensa satisfação a quem os executava.
25 de Novembro de 2007
Adélia Barros




quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O MEU PRIMEIRO GUARDA-CHUVA E OS MEUS TAMANQUINHOS DE ESTIMAÇÃO





A memória é um dom maravilhoso com que a Natureza nos brindou. É com a sua ajuda preciosa que consigo reviver o passado e deliciar-me com lembranças de episódios que povoaram a minha meninice.
Eu era uma menina muito feliz. Vivia rodeada de carinhos e nada me faltava. Tinha brinquedos ,roupa bonita, refeições a horas ,cuidados médicos e tudo o que uma criança necessita para crescer saudável de corpo e alma .
Mas ,como todas as crianças ,fazia birras e tinha os meus desejos secretos .E eu tinha um desejo que guardava para mim como se fosse um tesouro .
Lá na minha aldeia ,quando chegava o Inverno e com ele a chuva ,a maior parte das pessoas usava
umas tamancas que protegiam os pés da humidade e os conservavam quentes .Este calçado era feito de cabedal e a parte inferior que assentava no chão era de madeira ,cardado de tachas para que não se rompesse. E quando o chão era de pedra as tachinhas faziam um barulho peculiar como se fossem executar um sapateado.
Mas para que a chuva não caísse na cabeça, usavam os guarda -chuvas .Eu olhava apaixonadamente esta situação: tamanquinhas nos pés e guarda-chuvas abertos .E pensava em silêncio :"como eu me sentiria feliz se tivesse umas soquinhas e um guarda-chuva ".
E sempre que chovia ,eu sentia-me a criatura mais infeliz da face da terra .Tentava ,às escondidas ,calçar as tamancas da minha Mãe , agarrar o seu guarda-chuva e sair para o quintal. Mas esta aventura acabava sempre em tragédia :uma queda e uma forte molhadela .
Quando ,ao fim de semana ,o meu Pai regressava a casa , minha Mãe contava-lhe as minhas traquinices .Meu Pai delirava com os relatos da minha mãe ,compreendia quais os meus desejos e procurava ,quase sempre ,satisfazê-los .E num dos fins de semana ,que eu sempre aguardava com mal contida ansiedade ,meu Pai surpreendeu-me com um presente que me encheu de felicidade: umas tamanquinhas lindas que me assentaram que nem uma luva e um guarda-chuva vermelhinho com flores adequado à minha estatura .
E para cúmulo da mjnha felicidade chovia nesse dia. Tinha de fazer a estreia dos meus pertences. Começou aqui uma pequena briga: minha Mãe não queria que eu fosse para a chuva, mas meu Pai achou que eu tinha de satisfazer o meu desejo .E lá fui eu de tamanquinhas nos pés e guarda-chuva em riste pronta para o que desse e viesse .Escusado será dizer ,que só regressei a casa depois duma grande molhadela .Encharcada até à medula ,mas de alma cheia de alegria e felicidade .
Um rico banho quentinho evitou uma constipação .Mas não ficou por aqui a minha odisseia.Tiveram de secar o guarda-chuva e as soquinhas ,porque eu quis dormir com os meus objectos de estimação .
E como eu dormi tranquila e feliz!
Obrigada memória que me fazes tão feliz quando recordo o meu passado .Quase tão feliz como nos momentos em que vivi ,realmente,essas situações .
21 de Novembro de 2007
Adélia Barros


terça-feira, 13 de novembro de 2007

FEIRA de S. ANDRÉ












A foto das cestas foi tirada e cedida pela minha amiga Maria Teresa .
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Em Mesão Frio, o meu concelho, há uma feira anual que começa no dia 30 de Novembro e prolonga-se até ao dia 8 de Dezembro, inclusivé.
Esta feira tem a denominação de "Feira de Santo André" em homenagem a este Santo Padroeiro do concelho.
Esta tradicional feira remonta a tempos muito antigos. Talvez a sua origem seja para além da ocupação visigótica em terras de Mesão Frio .
O local primitivo onde se realizavam as feiras era na antiga " Praça da Erva ", hoje chamada " Praça do Pelourinho".
Mais tarde o local da feira mudou-se para a avenida principal chamada " Avenida Conselheiro José Maria Alpoim ".
Tenho muito boas recordações desta feira,desde muito pequenina.
Quando começavam os frios do Inverno,toda a gente ansiava pela feira de Santo André.
Nesta tradicional época, Mesão Frio adquiria um movimento extraordinário. Centenas largas de pessoas acorriam à Vila para fazerem as suas compras, para confraternizarem e rever amigos e familiares que só nesta altura afluiam à terra natal.
Esta feira ocorria pouco tempo depois do fim das vindimas, faina em que os trabalhadores rurais ganhavam mais um pouco ,e poucos dias antes das festas do Natal, Ano Novo e Reis.Então esta boa gente aproveitava a feira para se abastecer de alguns agasalhos.Percorriam as barracas de roupa onde os feirantes exibiam as célebres samarras com golas de pele de raposa, as capas alentejanas e os sobretudos. Outras barracas vendiam agasalhos para usar nas camas:as mantas de trapos as cobertas de estopa e os famosos cobertores de papa,feitos de lã de ovelha.
Mas não só havia barracas de roupas, mas também de loiças de todos os tipos,de cestaria que era feita pelos cesteiros da terra e arredores,de ourivesaria ,quinquilharia, cutelaria e muitas barracas de brinquedos.
Escusado será dizer que era nestas barraquinhas de brinquedos que eu me detinha demoradamente.Namorava as bonecas de todos os tamanhos e feitios,as loucinhas de barro e alumínio ,os fogões e as máquinas de costura fabricados de lata e todos os brinquedos que se coadunavam com o meu eterno feminino.
Para me verem feliz, os meus Pais brindavam-me com algumas peças que iriam fazer as minhas delícias nas próximas brincadeiras.
Os carroceis,as barracas das rifas, de tiro ao alvo e outras diversões ,nunca deixavam de abrilhantar estas feiras.
Outros eventos ocorriam nestes dias de feira.Logo no dia trinta as festas abriam com o concurso pecuário onde eram escolhidos os melhores exemplares de animais bovinos ,asininos e cavalares.
No dia um assistia -se aos Passeios Equestres e eram premiados os melhores cavalos.
Como era lindo ver todos os animais enfeitados de fitas multicores e os seus donos vestidos com os seus fatos domingueiros ,chapéus também ornados de fitas e penachos coloridos !...
Muitas pessoas se deslocavam à vila nesses dias para assistirem aos desfiles dos animais que redundavam num colorido e apreciado espectáculo.
Durante os dias de feira as Casas de Pasto serviam ,entre outros pratos ,a típica " Marrã ",que era ,nem mais nem menos,carne de porco frita com batatinhas loiras naquela gordura e bem regada com o bom vinho da região.
Não faltavam os famosos biscoitos da Teixeira e os rebuçados da Régua.Estas duas iguarias tinham as denominações que já referi, mas eram fabricados lá na terra pelas "Biscoiteiras" que os transportavam à cabeça em grandes cestos forrados com alvas toalhas de linho.
Quase todas as pessoas compravam oa saborosos doces .Era pitoresco vê-las com as folhetas de biscoitos embrulhadas em papel branco e transportadas debaixo do braço.
Pela tardinha , os compadres e os amigos regressavam a casa bem dispostos ,alegres e quentinhos com a ajuda da boa pinga.
Durante toda a minha infância,adolescência e juventude, nunca deixei de assistir a estas tradicionais e maravilhosas feiras. Ainda hoje conservo alguns objectos adquiridos nas barracas montadas na feira.
Mesmo depois de adulta, eu não abdicava das minhas visitinhas à feira. Sabia que havia sempre novidades para apreciar e comprar e, sobretudo, encontros com amigos e familiares que ,havia algum tempo ,não disfrutava da sua companhia .
E ,já depois de ser Mãe ,comecei a levar comigo os meus filhos .E tenho um episódio que se passou com o meu filho mais velho tinha ele apenas três anos.
Estavamos a oito de Dezembro ,dia Santo ,e último dia de feira .Tínhamos ido passar o dia com os meus Pais para ,após o almoço ,irmos até à vila fazer as despedidas das festas .
Apareceram também para almoçar os padrinhos do meu filho .Quando nos preparávamos para sair ,os meus compadres tiveram a infeliz ideia de darem ao afilhado dez escudos para que ele comprasse uma prenda na feira .E por que razão eu digo "infeliz ideia"? Exactamente ,porque quando chegámos junto das barracas dos brinquedos ,o meu filho queria comprar a feira inteira.E quando eu lhe dizia que não podia ser ,ele ,com toda a convicção ,respondia:"mas eu tenho dinheiro que me deu o meu padrinho"!
Para o convencer que os famosos dez escudos não chegavam para tudo o que ele queria ,foi uma luta. Ele queria uma gaita ,uma espingarda ,uma bola e uma infinidade de brinquedos .Mas ,por fim ,contentou-se com um bombo , uma gaita ,uma bola e um carrinho.
Mais tarde , a minha filha, pequenina ainda ,delirava com uma bonequinha, um fogão ,loucinha de barro ou alumínio ,uma máquina de costura ,enfim ,tudo o que se relacionava com os seus interesses de menininha.
Estas lembranças perduram na minha memória e é com muito prazer que as transmito aos meus netos e a todos os jovens que ,porventura ,as leiam.
Ainda se realizam estas feiras , com outros moldes, mas mantendo sempre as tradições seculares.
Sempre que posso ,vou matar saudades à feira e rever amigos que ,como eu ,ainda por cá andamos.
Faz bem recordar, porque ,como sabemos, recordar é viver.


14 de Novembro de 2007
Adélia Barros



O Olhar Do Coração

Com a sua permissão,
vou transcrever a apreciação que a minha Amiga "Maria Emília"fez a meu respeito na abertura duma Exposição de pintura a óleo feita na ilha do FAIAL- AÇORES




Em plena Primavera mais uma flor desabrochou...

O Marão tomou-a nos seus braços fortes, abraçou-a e disse:

-Não mais te largarei e debaixo do meu olhar austero,mas bondoso,crescerás

O Douro embalou-a com o sussurro das suas águas, ora agressivo ora calmo, e tomou o compromisso de nunca deixar que as vicissitudes da vida perturbassem " A SUA MENINA".

A Menina foi crescendo no meio de flores e vinhedos, contemplando a Mãe Natureza.

Rumou à cidade mais próxima onde se formou. Escolheu a nobre missão de ajudar a formar homens e mulheres para a vida.

Sempre adorou o que era "Belo" e em tudo achava "Arte".

Das suas mãos foram nascendo obras, porque as "Musas Divinas"a inspiravam, o pincel deslizava e as suas mãos faziam nascer nas telas o que os seus olhos guardavam desde o começo da sua existência.

A COR, a LUZ, a VIDA, a NATUREZA, tudo o que é belo a encantava e seduzia. E assim aconteceu:



O Douro a embalou,

O Marão a protegeu,

As Musas imploraram

E Deus obedeceu.



Faial, 2004-09-o3


Por Maria Emília Imaginário