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Em Mesão Frio, o meu concelho, há uma feira anual que começa no dia 30 de Novembro e prolonga-se até ao dia 8 de Dezembro, inclusivé.
Esta feira tem a denominação de "Feira de Santo André" em homenagem a este Santo Padroeiro do concelho.
Esta tradicional feira remonta a tempos muito antigos. Talvez a sua origem seja para além da ocupação visigótica em terras de Mesão Frio .
O local primitivo onde se realizavam as feiras era na antiga " Praça da Erva ", hoje chamada " Praça do Pelourinho".
Mais tarde o local da feira mudou-se para a avenida principal chamada " Avenida Conselheiro José Maria Alpoim ".
Tenho muito boas recordações desta feira,desde muito pequenina.
Quando começavam os frios do Inverno,toda a gente ansiava pela feira de Santo André.
Nesta tradicional época, Mesão Frio adquiria um movimento extraordinário. Centenas largas de pessoas acorriam à Vila para fazerem as suas compras, para confraternizarem e rever amigos e familiares que só nesta altura afluiam à terra natal.
Esta feira ocorria pouco tempo depois do fim das vindimas, faina em que os trabalhadores rurais ganhavam mais um pouco ,e poucos dias antes das festas do Natal, Ano Novo e Reis.Então esta boa gente aproveitava a feira para se abastecer de alguns agasalhos.Percorriam as barracas de roupa onde os feirantes exibiam as célebres samarras com golas de pele de raposa, as capas alentejanas e os sobretudos. Outras barracas vendiam agasalhos para usar nas camas:as mantas de trapos as cobertas de estopa e os famosos cobertores de papa,feitos de lã de ovelha.
Mas não só havia barracas de roupas, mas também de loiças de todos os tipos,de cestaria que era feita pelos cesteiros da terra e arredores,de ourivesaria ,quinquilharia, cutelaria e muitas barracas de brinquedos.
Escusado será dizer que era nestas barraquinhas de brinquedos que eu me detinha demoradamente.Namorava as bonecas de todos os tamanhos e feitios,as loucinhas de barro e alumínio ,os fogões e as máquinas de costura fabricados de lata e todos os brinquedos que se coadunavam com o meu eterno feminino.
Para me verem feliz, os meus Pais brindavam-me com algumas peças que iriam fazer as minhas delícias nas próximas brincadeiras.
Os carroceis,as barracas das rifas, de tiro ao alvo e outras diversões ,nunca deixavam de abrilhantar estas feiras.
Outros eventos ocorriam nestes dias de feira.Logo no dia trinta as festas abriam com o concurso pecuário onde eram escolhidos os melhores exemplares de animais bovinos ,asininos e cavalares.
No dia um assistia -se aos Passeios Equestres e eram premiados os melhores cavalos.
Como era lindo ver todos os animais enfeitados de fitas multicores e os seus donos vestidos com os seus fatos domingueiros ,chapéus também ornados de fitas e penachos coloridos !...
Muitas pessoas se deslocavam à vila nesses dias para assistirem aos desfiles dos animais que redundavam num colorido e apreciado espectáculo.
Durante os dias de feira as Casas de Pasto serviam ,entre outros pratos ,a típica " Marrã ",que era ,nem mais nem menos,carne de porco frita com batatinhas loiras naquela gordura e bem regada com o bom vinho da região.
Não faltavam os famosos biscoitos da Teixeira e os rebuçados da Régua.Estas duas iguarias tinham as denominações que já referi, mas eram fabricados lá na terra pelas "Biscoiteiras" que os transportavam à cabeça em grandes cestos forrados com alvas toalhas de linho.
Quase todas as pessoas compravam oa saborosos doces .Era pitoresco vê-las com as folhetas de biscoitos embrulhadas em papel branco e transportadas debaixo do braço.
Pela tardinha , os compadres e os amigos regressavam a casa bem dispostos ,alegres e quentinhos com a ajuda da boa pinga.
Durante toda a minha infância,adolescência e juventude, nunca deixei de assistir a estas tradicionais e maravilhosas feiras. Ainda hoje conservo alguns objectos adquiridos nas barracas montadas na feira.
Mesmo depois de adulta, eu não abdicava das minhas visitinhas à feira. Sabia que havia sempre novidades para apreciar e comprar e, sobretudo, encontros com amigos e familiares que ,havia algum tempo ,não disfrutava da sua companhia .
E ,já depois de ser Mãe ,comecei a levar comigo os meus filhos .E tenho um episódio que se passou com o meu filho mais velho tinha ele apenas três anos.
Estavamos a oito de Dezembro ,dia Santo ,e último dia de feira .Tínhamos ido passar o dia com os meus Pais para ,após o almoço ,irmos até à vila fazer as despedidas das festas .
Apareceram também para almoçar os padrinhos do meu filho .Quando nos preparávamos para sair ,os meus compadres tiveram a infeliz ideia de darem ao afilhado dez escudos para que ele comprasse uma prenda na feira .E por que razão eu digo "infeliz ideia"? Exactamente ,porque quando chegámos junto das barracas dos brinquedos ,o meu filho queria comprar a feira inteira.E quando eu lhe dizia que não podia ser ,ele ,com toda a convicção ,respondia:"mas eu tenho dinheiro que me deu o meu padrinho"!
Para o convencer que os famosos dez escudos não chegavam para tudo o que ele queria ,foi uma luta. Ele queria uma gaita ,uma espingarda ,uma bola e uma infinidade de brinquedos .Mas ,por fim ,contentou-se com um bombo , uma gaita ,uma bola e um carrinho.
Mais tarde , a minha filha, pequenina ainda ,delirava com uma bonequinha, um fogão ,loucinha de barro ou alumínio ,uma máquina de costura ,enfim ,tudo o que se relacionava com os seus interesses de menininha.
Estas lembranças perduram na minha memória e é com muito prazer que as transmito aos meus netos e a todos os jovens que ,porventura ,as leiam.
Ainda se realizam estas feiras , com outros moldes, mas mantendo sempre as tradições seculares.
Sempre que posso ,vou matar saudades à feira e rever amigos que ,como eu ,ainda por cá andamos.
Faz bem recordar, porque ,como sabemos, recordar é viver.
14 de Novembro de 2007
Adélia Barros
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