sábado, 24 de novembro de 2007

AS DESFOLHADAS DO MILHO


O Outono é uma das estações do ano mais rica em colheitas agrícolas:colhem-se variados frutos ,legumes e hortaliças.É também nesta época que se faz a colheita do milho .Na quinta dos meus Pais havia bastante milho para ser colhido .Nem todos os campos eram semeados ao mesmo tempo ,portanto ,as espigas iam amadurecendo com intervalo de alguns dias.
Consoante ficavam prontas ,iam sendo colhidas. Era uma intensa azáfama. Todos eram poucos para colher as espigas de cada campo.Enquanto uns cortavam as espigas e as colocavam em grandes cestos ,outros transportavam-nas às costas para a eira ,se estivesse bom tempo, ou então para um grande salão ,se houvesse ameaça de chuva.
À noite ,no fim do jantar, juntavam-se os amigos da vizinhança, para dar início à desfolhada que consistia em livrar as douradas espigas do folhelho que as revestia .
Este trabalho redundava numa animada festa.Toda a gente se sentava no chão à volta do monte das espigas e cada um procurava desfolhar o maior número possível de maçarocas para que a faina acabasse depressa. Todos estavam atentos ,porque ,se algum dos participantes encontrasse uma espiga vermelha ,tinha de correr a roda ,dando um abraço em cada um.E não havia desculpas!...Mas não ficava por aqui a brincadeira. De vez em quando aparecia uma espiga cujos grãos eram dourados ,pintalgados de vermelho.E então a brincadeira redobrava de intensidade:agora , o felizardo que encontrasse uma espiga assim ,tinha de ir roubar um beijo a cada um dos presentes. Era ver como alguns mais envergonhados procuravam esquivar-se ao cumprimento da tradição.Mas por fim tudo se resolvia a contento.
Por que razão estavam todos ansiosos pelo fim do trabalho?É que havia sempre um ou mais tocadores de concertina ou viola que animavam a festa com as suas músicas e toda a gente dançava. Aparecia sempre alguém que cantava ao desafio e o serão redobrava de entusiasmo.
A noite já ia alta quando a função acabava, mas antes da retirada era servida uma pequena merenda que constava de broa ,azeitonas, sardinhas e a famosa pinguinha do maduro que aquecia os corações e ajudava na viagem de regresso a casa.
E eu não perdia nem um minuto desta faina:ajudava a colher as espigas ,desfolhava as que podia e participava em todas as brincadeiras.Era, sem dúvida, a participante mais animada.
Quando terminava uma desfolhada ,esperava ansiosa pela próxima.
Eram fainas animadas ,mas que actualmente não se repetem ,porque todo o trabalho está mecanizado.Porém , é com muito prazer que relato estes trabalhos que ,embora penosos, davam imensa satisfação a quem os executava.
25 de Novembro de 2007
Adélia Barros




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