segunda-feira, 22 de outubro de 2007

CANTAR OS REIS




Passou a festa do Natal. Esta festividade trouxe a todos muitas alegrias.Os preparativos ocuparam-nos durante alguns dias, mas valeu a pena, porque correu tudo muito bem.
A ceia de Natal foi tradicional:as famosas batatas com bacalhau e as saborosas pencas cultivadas na nossa horta.Porém, na nossa casa,comia -se um prato especial cozinhado pela minha Mãe:açorda de penca e bacalhau ,acompanhado de deliciosos bolos de bacalhau.
Como sobremesa a insubstituível aletria e o célebre creme de gemas e torradinho com açúcar e canela.E as rabanadas com molho,as filhós de abóbora, os sonhos ,e aquele doce de chila com gemas de ovos que era servido num prato antigo,muito bonito?Ao colocá-lo no prato ,davamos- lhe a forma dum trevo de quatro folhas ,polvilhado de canela.Essa forma que se dava ao doce era para trazer felicidade para todos durante todo o ano.
Depois da ceia começavam os jogos com os pinhões e os figos secos.
Lá pela meia-noite íamos assistir à Missa do Galo onde
beijávamos o Menino que o Sr Abade retirava das palhinhas com todo o carinho.
No fim destas cerimónias ,regressávamos a casa ,comiamos o apetitoso bolo rei ,e iamos dormir depois de nos aquecermos à lareira que se mantinha acesa desde manhã.
Na manhã do Dia de Natal,conforme íamos despertando,assim nos dirigíamos à mesa donde não haviam sido retiradas as belas iguarias que tinham feito as nossas delícias na passada noite.À sua volta dávamos largas à nossa gulodice.
Na refeição do almoço ,entre outras qualidades de apetitosa comida,era servida a tradicional " roupa velha ",prato confeccionado com as sobras do bacalhau, das pencas e das batatas ,refogadas com bom azeite e muito alho.
Depois da festa do Natal,surgia a " Passagem do Ano."Repetiam-se as comemorações que tinham assinalado a festividade do Nascimento do Menino Jesus.
Começava então a preparação da "Noite dos Reis".Todas as noites nos juntávamos à volta da lareira ,onde se vinham juntar alguns amigos ,para ensaiarmos os cânticos que íriamos cantar na noite do dia cinco de Janeiro à porta de algumas famílias amigas.Essas canções eram acompanhadas pelo violino que o meu irmão mais velho tocava com todo o empenho,por alguns tocadores de concertinas, violas e ferrinhos.
As quadras que se cantavam a cada membro da família ,geralmente focavam qualidades ou acontecimentos relacionados a essa mesma pessoa.
Ainda me recordo de algumas quadras que se cantavam:
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Quem diremos nós que viva
No grãozinho do confeito
Viva o dono desta casa
Que é um senhor de respeito.
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Viva a dona desta casa
Nas asas dos passarinhos
Não deixa ninguém com fome
É a Mãe dos pobrezinhos.
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Se nos quiser dar os reis
Não nos esteja a demorar
Nós somos de muito longe
Temos muito para andar.
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Vários grupos se formavam e como era inevitável acabavámos por nos encontrar a qualquer porta.Deste modo os grupos fundiam-se num só e na última casa visitada ,entrávamos ,
comíamos e ficávamos a dançar até de manhã.
Dali seguíamos para a Igreja ,assistíamos à Santa m Missa, beijávamos o Menino ,mas , desta vez,em jeito de despedida,até ao próximo Natal.
Estas tradições vão-se mantendo ,mas infelizmente,com menos calor que há algumas dezenas de anos.
Eu gosto de recordar estes tempos que eu vivi intensamente e me fizeram mmuito feliz.
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Adélia Barros
24 de outubro de 2007

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