Do concelho de Mesão Frio faz parte uma freguesia cujo nome é Vila Marim.Esta freguesia situa -se na encosta sul da serra do Marão e tem os pés banhados no rio Douro ,onde actualmente existe uma praia fluvial.
Nesta mesma freguesia há um lugar chamado Donsumil e aí um lugarejo denominado "Lameirinho".É o ponto mais elevado da freguesia ,considerado o mais famoso miradouro do concelho.Daqui se avistam aproximadamente dezassete quilómetros do rio Douro para jusante e montante.
Neste local, no segundo domingo de Julho ,há uma romaria de tradições seculares.É aí onde os namorados que ,de regresso da romaria da Senhora da Serra do Marão,vão arrematar, em leilão ,os ramos de flores de papel para oferecerem às suas namoradas.
Quando eu era criança ,essa romaria revestia-se dum entusiasmo enorme que infelizmente foi perdendo intensidade com o decorrer dos anos.
Às primeiras horas do citado domingo,muitas pessoas, em especial os mais jovens,partiam em grupo, subindo a serra para cumprirem promessas feitas a Nossa Senhora da Serra do Marão em momentos de aflição das suas vidas.
Chegavam à Capela ao amanhecer e aí assistiam às cerimónias religiosas.Pagavam suas promessas,uma das quais era oferecer à Virgem ramos de cravos em agradecimento por lhes ter feito desaparecer as verrugas a que chamavam cravos.
Terminado este ritual, faziam o caminho de volta.Pelo meio da tarde chegavam ao local onde se celebrava a Romaria do Lameirinho.
Entre os romeiros contavam-se os meus irmãos e alguns amigos .Vinham munidos de bengalas que adquiriram na romaria da Senhora da Serra do Marão e que ajudavam a descer a encosta íngreme da serra.
Os meus Pais e alguns amigos esperavam os romeiros com uma boa refeição ,composta de arroz do forno, cabrito assado e outras iguarias.De sobremesa não faltava o célebre doce da Teixeira que era fabricado mesmo ali na nossa freguesia.
Os homens dos rebuçados e confeitos seguravam os cestos cheios destas guloseimas pendurados no pescoço por fitas de cores.
Não era só a minha família que levava a merenda para ser comida à sombra dos castanheiros lá no Lameirinho; outras famílias faziam o mesmo.
No fim da refeição, começavam as diversões.Havia um grupo de homens que dançavam a "Chula ",cantando e tocando castanholas.
O pregoeiro dava início ao tradicional leilão dos ramos de flores de papel que os namorados arrematavam para oferecer às suas namoradas.
Havia alguns anos que em Vila Marim fora construída uma estrada que ligava esta freguesia à sede do concelho.Esta estrada dividiu em duas partes a freguesia. A partir dessa altura os povos ficaram a denominar-se:os da estrada abaixo e os da estrada acima.
Entre os habitantes dum lado e doutro instalou-se uma rivalidade notória.Os de cima mais modestos e trabalhadores e os de baixo mais vaidosos e fúteis.Até nos casamentos,raramente se misturavam os dois povos.
No leilão,os ramos eram disputados afincadamente pelos rapazes de cima e de baixo.
Esta disputa era vantajosa, porque os singelos ramos chegavam a atingir preços elevadíssimos, o que revertia a favor das despesas da festa.
Era assim até a noite chegar.
Todo o mundo dançava ao ar livre ao toque das concertinas.
11 de Outubro de 2007
Adélia Barros
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