quarta-feira, 31 de outubro de 2007

TARDE de VERÃO



Estava uma tarde linda.
O Sol brilhava e aquecia o ambiente de tal modo que todas as pessoas procuravam a sombra das árvores para se refrescarem.
As pessoas maiores aproveitavam para fazerem uma sesta logo a seguir ao almoço ,hora em que a temperatura era mais elevada .
Eu ,menina irrequieta,nunca dormia a sesta.Neste período em que meus pais descansavam,eu aproveitava para dar largas à minha imaginação e fazer as minhas torpelias.
E ,naquela tarde linda e quente,transpus o portão do terreiro e fui ao encontro dos amigos com quem costumava brincar.
Dentre esse grupo de amiguinhos,destacavam-se os filhos do sr. António Aleixo.
Este bom homem ,casado com a comadre Guilhermina,vivia num casebre muito pobre.No rés-do-chão desse barraco, a que orgulhosamente chamavam "casa",esta família criava cabras que conviviam harmoniosamente com coelhos que eles também criavam.
Mas ,nessa tarde, os meus companheiros de brincadeiras não estavam disponíveis.Os pais tinham-nos incumbido de levar as cabras a pastar.Entusiasmei-me com a ideia de ir com eles naquela aventura.E ,sem dar conhecimento a ninguém,lá fui eu ,empunhando como eles uma vergasta para ajudar a tocar os animais.
Dirigimo-nos à mata do "Minhoto" onde havia muita vegetação que iria servir de alimento àquelas cabrinhas que precisavam comer para criarem os seus filhotes e ainda fornecer leite àquelas crianças que pouco mais tinham a não ser um bocado de broa dura e ,por vezes, bolorenta.
Entre outros arbustos,havia muitos medronheiros carregadinhos de vermelhos e doces medronhos.
Enquanto nós brincávamos às casinhas à sombra duns arbustos mais altos,as cabras deliciavam-se com os apetitosos medronhos.
Lá pela tardinha juntámos o pequeno rebanho para regressar a casa.Mas ,uma das cabras estava regaladamente deitada sobre uma grande pedra e não conseguia levantar-se.
Ficámos aflitíssimos ,porque pensámos que o animal estava doente.Todos juntos tentámos pôr de pé a cabra ,mas ela não se segurava. De cada vez que conseguiamos erguê-la ,ela caía no chão.
Por fim amarramos-lhe as patas com uma corda e todos juntos conseguimos arrastar a bichinha até casa.
Nem queirais saber o que nos esperava!...
Quanto a mim, toda a tarde o pessoal da minha casa me procurou ,até que alguém os informou de que eu tinha saído com a prole "Aleixo "e com o respectivo rebanho.Quando apareci em casa a minha Mãe brindou-me com uma valente sova.
E quanto à cabra ?Ninguém sabia por que razão ela tinha tido aquele comportamento.
À noite ,quando o meu Pai chegou a casa ,ficou a saber toda a aventura que vivi naquela tarde.
E então elucidou-me sobre o incidente que tinha acontecido à cabra.Esta cabra gulosa tinha-se deliciado com tantos medronhos que ,de barriga cheia, deixou-se dormir ao sol em cima da pedra.No estômago do animal os medronhos fermentaram e transformaram-se em alcool e a cabra ficou embriagada.Em casa do sr. Aleixo entraram em pânico ao ver a bicha naquele estado lamentável.Só lhes ocorreu que iam perder o animal e lá se ia parte do seu património.
Vieram então a nossa casa pedir um pouquinho de azeite que enfiaram pela boca da pobrezinha.Mas que deu resultado ,deu.A cabra começou a vomitar os medronhos fermentados e melhorou.
Foi uma tarde inesquecível.Apesar de me ter rendido uma grande sova ,fiquei a saber que os medronhos embebedam quando comidos em excesso .Mas também me explicaram que com eles se faz uma excelente aguardente.
Mas hoje recordo estes acontecimentos com saudades.
Espero que quem leia esta descrição duma tarde de verão,faça uma ideia do modo como eu passei a minha infância naquela aldeia do Douro ,na encosta do Marão.
31 de OUtubro de 2007
Adélia Barros
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1 comentário:

Tentilhão disse...

Eu tinha tres anos de idade quando estive na mesma situação dessa cabra.