sábado, 6 de outubro de 2007

" A FORNADA DA BROA "







Todas as semanas o sr" António Moleiro "passava pela nossa casa, acompanhado do seu burro, para trazer a saca da farinha e levar de novo outra saca de milho para ser moída no moínho de água.E todas as semanas se repetia esta troca.
A minha Mãe esperava ansiosa a farinha de milho ,moída a preceito,para cozer a fornada da broa.Era um ritual que eu seguia atentamente.
A empregada enchia de água os potes de três pernas que colocava ao lume para que a água aquecesse até ferver.
Num grande caneco de madeira ,a minha Mãe temperava a água quente com sal.
Na masseira,feita de madeira, deitava a farinha em monte.No meio fazia um buraco onde deitava o fermento que desfazia com um pouco de água.Este fermento ficava duma semana para a outra a levedar.
Depois,a pouco e pouco,ia misturando água na farinha até fazer uma massa que seria muito bem trabalhada em movimentos debaixo para cima e batida com os punhos cerrados como se estivesse a socá-la. Eram estes movimentos ritmados que tornavam a massa fofa,leve e consistente.
Esta massa repousava a um canto da masseira,com uma cruz decalcada no meio.Esta cruz,esculpida pela minha Mãe,significava o desejo que DEUS abençoasse esta massa que iria transformar-se em pão.
Após uma ou duas horas, a massa estava levedada e pronta para serem tendidas as broas que iriam ser enfornadas com a ajuda duma grande pá de ferro com um cabo muito comprido.
Mas antes de enfornar as broas,a minha Mãe tendia umas bolas baixinhas e recheava-as com bacon, salpicão ou então com sardinhas, e metia-as no forno para cozer.Só depois de tirar as bolas cozidas, enfornava as broas que ficavam no forno durante três ou quatro horas.
O forno era aquecido com lenha que ardia sem parar até que o dito forno ficasse muito quente.
E como se sabia se estava quente o suficiente para cozer o pão?As paredes da porta do forno tinham de aparecer esbranquiçadas e isto era sinal de que estava pronto para receber as broas do pão.A porta do forno era fechada e vedada com bocados de massa.
Depois de cozido o pão, era retirado do forno e guardado na despensa.Este pão que ficava saboroso como eu nunca comi igual, mantinha-se fresco e bom durante toda a semana.
O dia em que a minha Mãe cozia a broa era como se fosse um dia de festa: todos nós reunidos em volta da fogueira e sentados nas preguiceiras,cujas costas se transformavam em mesas, comiamos as bolas recheadas com carne ou sardinha que a minha Mãe tinha cozido antes de enfornar as broas.Em seguida completávamos a refeição com umas deliciosas papas de farinha de milho e couves cortadas miudinhas pelas mãos de minha Mãe.
Esta festa repetia-se todas as semanas.
Eu nunca esquecerei como nos sentíamos tão felizes!...
10 de Outono de 2007
Adélia Barros

1 comentário:

Anónimo disse...

Quero broaaaaaaaaaaaaaaaaa quentinha!!!