Dezembro chegara.O Inverno aproximava-se.Os frios gelados,próprios desta época,instalaram-se definitavamente.
Na lareira da nossa casa,logo pela manhã,se acendia uma grande fogueira que só se apagava depois de todos se deitarem.À volta dessa fogueira e à luz do candeeiro a petróleo ou de velas ou então da candeia de azeite, eu preparava os meus trabalhos da escola, enquanto a minha Mãe ,ajudada pelas empregadas, cozinhava a ceia nos tradicionais potes de ferro de três pernas.
Como aquelas refeições eram deliciosas comidas ao calor da lareira!Tinham um sabor característico e tão diferente que ainda hoje me recordo desse paladar!
Os dias iam passando e o Natal aproximava-se.Tínhamos de pensar no Presépio.As figurinhas de barro,embrulhadas em jornal, repousavam numa caixa de cartão, desde o ano anterior.Era preciso musgo que tínhamos de ir arrancar das paredes húmidas com a ajuda duma faca velha.Carregávamos também algumas pedras para fingir os montes. Um espelho no meio do musgo imitava um lago onde colocávamos uns patinhos de vidro.Uns galhos de árvores eram espetados no musgo e ladeavam os caminhos de areia que conduziam os Pastorinhos e os Reis Magos até ao Presépio de palha em que dormia o Menino velado por Sua Mãe e S. José.
No alto da cabaninha que
abrigava o Presépio, brilhava uma estrela que guiava os pastores e os Reis Magos.
Durante muitos anos da minha infância e adolescência, o Pai Natal não conseguiu encontrar os caminhos da minha aldeia e da maioria das aldeias do nosso País.Por essa razão nem eu, nem muitas e muitas crianças encontrávamos algum presente debaixo da chaminé, na manhã do Dia de Natal.Apenas alguns figos secos e pouco mais.
Mas nem por isso deixávamos de festejar com alegria essa quadra.Havia jogos simples,simples como nós crianças,que nos entretinham nessa noite.Era o jogo do Rapa e o Par e Pernão.
Para executarmos esses jogos eram necessários os pinhões.Começava então a faina da colheita das pinhas.
No pinhal da " Povoação",entre os pinheiros bravos,existiam dois pinheiros mansos.Eram as pinhas dessas árvores que se distinguiam das outras,porque eram mais baixas, de copa mais larga e redonda e caruma mais fina,que tinham de ser colhidas.
O Zé Maria levava um saco e ,acompanhado da comitiva miúda, lá ia colher as pinhas.
Quando chegávamos a casa, colocávamos no lume da lareira as pinhas que vinham muito fechadas e impregnadas de resina.
À volta da fogueira esperávamos ansiosos que o lume queimasse a resina e fizesse abrir as pinhas que ficavam com o aspecto duma flor aberta donde saíam os pinhões.Vinham cheios dum pó castanho escuro de tal modo aderente que só com água a ferver conseguiamos lavá-los. Depois de bem lavados,eram secos num pano grosso e áspero, esfregando com força para retirar alguns resíduos.E estava pronto o precioso material para os célebres jogos da Noite de Natal.
"Rapa,Tira Deixa e Põe" e " Par e Pernão",eram as palavras proferidas toda a noite até o sono ser mais forte que a vontade de jogar.
Hoje os pinhões já vêm descascados e prontos a comer. Creio que poucas crianças ainda joguem o "Rapa " e o "Par e Pernão".
Esses singelos jogos foram substituídos por complicados brinquedos que o Pai Natal distribui por quase todas as casas.
Mas acho que as crianças doutrora não eram menos felizes que as de hoje!...
5de outubro de 2007
Adélia Barros
1 comentário:
Já a pensar no Natal?
As prendas também já estão a ser escolhidas?
Bjs
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