Quando esta manhã
Saías de casa
Com teu filho pela mão,
Fiquei admirando
Seus sapatos novos,
Sua roupa quentinha
Sua pasta linda de belo couro
E o farto lanche
Que levava para o colégio.
Tu olhaste-me com desprezo
Segurando no seu braço
Com receio que me tocasse.
Pensaste por acaso
No meu infortúnio,
Nos meus pés descalços
E na minha roupa toda rota?
Certamente esqueceste depressa
Este incidente
Mal entraste no teu automóvel
E te perdeste no tráfego
Como se perdem
Todos os meus sonhos.
Ali, só e abandonado,
Fiquei pensando:
Tantas diferenças entre mim
E aquele garoto!
Temos mais ou menos a mesma idade,
Nascemos na mesma Pátria,
Ele joga futebol com lindas bolas
Eu chuto as pedras e latas vazias,
Ele dorme em cama fofa
Eu durmo na rua no chão sobre papéis,
Ele tem comida farta e gostosa
Eu como o que cato na lata do lixo,
Ele aprende a ler e a escrever
Enquanto eu aprendo na rua
A roubar e a defender-me .
Será que eu sou culpado
De ter nascido sem saber
Quem é meu pai
E tendo como mãe
Uma mulher sofrida e pobre?
Como nada é feito
Para acabar com tais diferenças ,
No futuro será igual, se não pior.
E até será possível
Que um dia nos encontremos
Num tribunal de Direito :
Ele como juiz
Eu como delinquente.
Será que tudo isto é justo?
Não peço que me dês a mão
Pois ela é do teu filho!
Só te imploro que nunca mais
Olhes ninguém dessa maneira.
Certamente que sem indiferença
Poderemos fazer alguma coisa
Em prol do bem comum.
....Adélia Barros
...24 de janeiro de 2008
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