domingo, 30 de dezembro de 2007
VERSINHOS AO MENINO JESUS...
quarta-feira, 26 de dezembro de 2007
EU VI A AURORA BOREAL...
Estávamos em pleno Inverno.Dia vinte e cinco de Janeiro de 1938.Tempo de frio ,chuvas intensas e ventos fortes . Por vezes a neve resolvia presentear-nos com a sua visita. Os campos e os caminhos apareciam todas as manhãs cobertos de geada transparente como cristal,o que dificultava o acesso a esses lugares.Era necessário redobrar os cuidados nas caminhadas que não podiam deixar de ser feitas. Os agricultores tinham de deixar que a geada derretesse para poderem colher nos campos os produtos agrícolas para sua subsistência e dos seus animais domésticos.
Este dia estava particularmente frio.Na minha aldeia quase ninguém ousava sair à rua.Nas lareiras crepitava a fogueira e todos procuravam aninhar-se à sua volta para resistirem aos rigores das temperaturas excessivamente baixas.
Na minha casa ,além da fogueira habitual, tinha-se acendido o forno para cozer a broa que a minha mãe amassou como fazia sempre.É que ela não confiava a ninguém esta tarefa!
Se ,de dia, poucas pessoas saíam de casa ,quando a noite caía ninguém mais deitava o nariz fora da porta ,excepto em situações especiais:buscar mais lenha para manter a lareira acesa,tratar algum animal que estivesse a necessitar de cuidados especiais ou então ir ao armazém, onde se guardavam os produtos agrícolas ,abastecer-se de algum que eventualmente tivesse acabado.
No silêncio da noite,qualquer som, por mais insignificante, toma uma dimensão enorme.Foi o que aconteceu nessa noite:ruídos estranhos ,semelhantes à queima de lenha seca,começaram a ser ouvidos por todos nós que estávamos à volta da lareira.O Manuel,nosso feitor, a quem, carinhosamente,chamávamos "Pionas,"ao ouvir estes barulhos , assomou ao postigo da porta para se inteirar do que se passava.Mal deitou a cabeça fora da pequena janela, apercebeu-se que o céu estava vermelho da cor do fogo, parecendo em chamas, donde se desprendiam raios luminosos. Gritou para todos nós:venham ver ,é o fim do Mundo.De imediato gritos aflitivos se fizeram ouvir em toda a aldeia,ao mesmo tempo que se dirigiam para a Igreja onde o Sr Padre António se encontrava, tentando acalmar os seus paroquianos. Todos nós lá de casa fizemos o mesmo,largando tudo.Só o Manuel Pionas ficou mais algum tempo para enfornar o pão que estava na masseira ,tapar o forno e fechar todas as portas e janelas de casa.Só depois disso ,foi ter connosco à Igreja.
As pessoas vinham munidas de lampiões que à pressa tinham conseguido pegar.Mas não foi necessário acendê-los,porque do céu emanavam clarões de luz dum brilho sanguinolento.
As pessoas corriam desesperadamente ,atropelando-se,escorregando aqui e ali sem pensar nas consequências funestas que poderiam advir dessa correria desenfreada. Uma senhora, já de certa idade, que corria e gritava ao meu lado, levando pela mão uma netinha mais ou menos da minha idade, escorregou na calçada ,caíu desamparadamente e partiu um pé.Mesmo assim cheia de dores só parou na Igreja junto da multidão enorme que ali se aglomerava.
Os gritos aflitivos daquela boa gente enchiam a Igreja e faziam-se ouvir por toda a freguesia:É o fim do Mundo; é a guerra ,acudam...
O bom do Sr. Padre António tentava acalmar os seus paroquianos ,explicando que o fenómeno que se estava observando, não era mais do que uma Aurora Boreal ,fenómeno que era visto muitas vezes nas regiões do norte do Globo. Ao mesmo tempo ia rezando com eles.
Esta situação aflitiva durou algumas horas até que a luz do dia ofuscou a luz que tinha incendiado o céu durante a noite longa.
Depois do dia amanhecer e com as sábias palavras do Sr. Padre, o bom povo da minha aldeia,acalmou e voltou em paz para suas casas.No entanto aquela visão dantesca perdurou por muito tempo, talvez por toda a vida, na memória daquela boa gente, assim como perdurou na minha até hoje.E já se passaram setenta anos!...Eu tinha nessa altura quatro anos e nove meses. E essa imagem foi tão forte que consigo descrever tudo o que presenciei e reproduzir textualmente o que ouvi.
No dia seguinte àquele acontecimento,o jornal diário que meu Pai assinava, trazia noticiado o fenómeno observado em todo o céu de Portugal e de outros países.Claro que eu não li a notícia,mas ouvi meu pai lê -la e comentá-la ,tentando explicar, da melhor maneira que sabia, as causas daquele "Belo Horrível".
Achei por bem deixar aqui a descrição deste acontecimento que tanto me impressionou e ,porque não dizer,que tanto me maravilhou!...
27 de Dezembro de 2007
Adélia Barros
domingo, 23 de dezembro de 2007
NUNCA PERDER A FÉ...
quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
DEUS FEZ TUDO TÃO PERFEITO...
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
CAVALGAR...
Recuando aos anos trinta...
Nessa época ,Portugal carecia de tantas coisas que seria quase impossível enumerá-las.
Uma das maiores carências eram as vias de comunicação entre os povos.Por tal,os habitantes do interior ,praticamente, viviam num isolamento quase total.As deslocações eram feitas a pé ,ou então de jumento,burro ou cavalo.
Os meus avós maternos viviam a uma distância considerável ,mais de vinte quilómetros.De vez em quando eles gostavam de me ter com eles por uns dias e eu correspondia ao seu desejo.
Então lá vinha um dos seus homens de confiança buscar a mascote.Vinha montado num jumentinho,mas na volta era eu, a «amazona » que montava,e o criado segurava a rédea e guiava o animal. Mas os preparativos da viagem eram revestidos dum cerimonial aparatoso. Depois duma noite bem dormida e duma refeição reforçada, o burriquito era arreado convenientemente.Sobre o dorso era colocada a albarda ,selim grosseiro cheio de palha,para evitar que a carga o magoasse. Em cima da albarda era colocada uma espécie de liteira com assento almofadado e que tinha de ser muito bem presa à volta do corpo do animal para não correr o risco de se soltar.Este engenho era protegido por grades de madeira, excepto à frente para sairem as pernas, e era chamado de "cadeirinha".
Após este ritual chegava a minha Mãe com umas mantas e almofadas fofinhas para forrar a cadeirinha ,para que eu não me maçasse e chegasse bem ao destino.Só depois destes cuidados todos, eu era colocada no trono e presa com um cinto para não cair do jumentinho.
Começava assim a viagem que iria demorar umas longas horas.Pelo caminho íamos comendo uma merenda que a minha Mãe havia preparado com carinho e o jumentinho comia milho e bebia água.Ao entardecer chegávamos ao destino onde os meus Avós nos esperavam ansiosos.Depois duma bela refeição, eu contava todas as peripécias da viagem e seguidamente caía na cama,adormecia e só na manhã seguinte dava sinal de vida.O mesmo sucedia com o meu amável companheiro de viagem e com o burriquito que me trnsportou com tanta eficiência.
Fiz esta viagem muitas vezes antes da minha entrada na escola , mas,, depois disso só nas férias do Verão.
Lembro-me tão bem dessas aventuras,do burriquinho, toc, toc, toc ,por caminhos travessos ,e do paciente e fiel criado dos meus Avós que seguia ao lado da dupla,"cavalo e amazona",vigiando todos os passos,para que nada corresse mal.
Hoje ,felizmente,tudo mudou.Os automóveis substituiram as ilustres cavalgaduras desse tempo e coitadinhos dos burriquitos que estão quase em extinção.Quando me encontro com algum ,em pensamento,eu digo:obrigada, linda raça que tão bons momentos me proporcionastes na minha meninice .
..........
22 de Dezembro de 2007
...........
Adélia Barros
terça-feira, 18 de dezembro de 2007
TEU AMOR É COMO UM RIO...
Corre corre sem parar.
Teu amor corre p'ra mim,
O rio corre p´ro mar.
......
Antes de chegar a mim
Teu amor passa tormentos.
Antes de chegar ao mar
O rio passa barrancos.
......
Teu amor,de altos e baixos,
Vai resistindo ao tempo.
O rio, com suas curvas,
Chega ao mar no seu momento.
......
Dos meus braços quando quer
Teu amor pode escapar.
Mas o rio nem que queira
O seu destino é o mar.
......
Mas com o passar do tempo
Teu amor volta sorrindo,
Porque o rio te ensinou
Que o mar é o melhor destino.
......
Aos meus braços ansiosos
Volta sempre meu amor,
Eu aprendi com o mar
A esquecer e perdoar
As tuas crises de humor.
18 de Dezembro de 2007
........Adélia Barros
domingo, 16 de dezembro de 2007
PRIMEIROS TEMPOS NA ALDEIA ADOPTADA....
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
NÃO DEI PELO TEMPO PASSAR...
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
VOLTARAM AS ANDORINHAS....
quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
OS OLHOS DO MEU ...AMOR
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
AQUELA JANELA...
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
OS AMANTES DO UNIVERSO...
domingo, 9 de dezembro de 2007
QUANDO NUM SONHO.......
POR TODOS OS LUGARES POR ONDE PASSO.....
Por todos os lugares por onde passo,
Reencontro-te e me perco
Em momentos de fantasia.
Instantes que teimam em ficar,
Mas nada faço
Para que se esfumem.
Esses instantes de emoção
Fazem-me sonhar
E abrasam meu coração...
Por todos os lugares por onde passo
Sinto tua presença,
Reconheço o teu vulto,
O seu calor me invade
E me arrebata,tão perto e tão real.
Por todos os lugares por onde passo,
Ao sentir-te, ao reviver-te,
Vou-me encontrando.
E o meu ser se transfere
Para teus braços, buscando os meus.
9 de Dezembro de 2007
Adélia Barros
NUNCA SERÁ TARDE...
Nunca será tarde
sábado, 8 de dezembro de 2007
AMEI-TE
Sob a cerejeira florida,
Sentindo o perfume da hortelã
Intenso e refrescante
Que estimulava o desejo
De amar e ser amada.
Amei-te no Verão
À sombra daquela velha tília
A vergar de flores perfumadas,
Ricas em néctar
Que as abelhas procuravam
Com a mesma avidez
Com que trocávamos nossos beijos.
Amei-te no Outono
Sobre um tapete fofo e macio
De folhas caídas,
Secas ,dum vermelho forte e quente,
Como quente e fogoso era o nosso amar.
Os primeiros ventos
Sacudiam as árvores
Como a querer roubar-lhe
Os segredos de amor
Que elas guardavam religiosamente.
Amei-te no Inverno,
Mas agora ,meu amor,
No calor do nosso leito,
Embalados pela música romântica
Que o velhinho aparelho transmitia.
À luz difusa do candeeiro
Nos olhávamos apaixonadamente
E fazíamos juras de amor eterno.
Foi assim
Nas quatro estações
Das nossas Vidas.
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
O ENTERRO DO CANÁRIO
Na sua gaiola branca
Vivia o belo canário.
No alto do seu poleiro
passava os dias mirando
Tudo o que o rodeava.
Tinha roupagem tão linda
Tão talhadinha a preceito
Duma cor tão chamativa
Que dava gosto olhá-lo.
Mal a manhã despontava
O nosso belo canário
Acordava toda a gente
Com afinados trinados.
Comia com delicadeza o seu alpiste,
Bebia gota a gota a água fresquinha
Colocada na pucarinha de louça.
A seguir ao seu repasto,
Tomava banho com gotinhas
Que apanhava com o bico
E lançava sobre as sedosas penas
Que ficavam mais suaves e luzidias.
Como ele apreciava a gema de ovo cozida!
E um raminho de erva milheira
Que meu Pai ,de vez em quando,
Colhia no campo junto do rego da água?
Eu mirava aquelas penas
De cor tão amarelinha
Que um dia fiz esta pergunta ingénua:
-Papá, o canário tem peninhas amarelas,
Porque come muita gema de ovo?
-Não ,minha filha, são desta cor,
Porque os pais também tinham peninhas desta cor!...
Eu adorava o meu lindo passarinho.
Deliciava-me com o seu melodioso canto.
Mas um dia, mas que dia tenebroso,
O querido canarinho
Apareceu caído na gaiola
De olhinhos cerrados
E biquinho pregado.
Não quis acreditar
No que os meus ouvidos escutaram:
-O passarinho morreu!...
Chorei copiosamente.
Segurei no meu amigo
Que durante muito tempo
Tinha feito parte do meu mundo encantado.
E ,para lhe demonstrar o meu amor,
Fui ,com os amigos,
Tratar do seu enterro.
Num cantinho do jardim
Fizemos uma cova
E enterramos ali o meu amiguinho
Que me deixou muitas saudades.
Cobrimos aquele espaço
Com muitas flores colhidas no jardim.
E para assinalar aquele lugar,
Que para mim ficou a ser sagrado,
Coloquei uma cruz que eu fiz com dois pauzinhos.
E que ninguém ousasse profanar
Aquele lugar santo
Onde o meu cantor de penas amarelas
Repousava agora sem poder contemplar
A luz do Sol ,comer a geminha do ovo
Que eu cri por muito tempo
Ser a causa daquela linda cor
Que lhe tingia as peninhas macias como seda!
E hoje bendigo aquele meu gesto,
Porque não duvido
Que o meu canário tinha alma
Como qualquer mortal!...
7 de Dezembro de 2007
Adélia Barros
sábado, 1 de dezembro de 2007
DOCINHO de ABÓBORA
Lá nos campos da quinta que me viu crescer,o milho e o feijão brotavam da terra ,ansiosos por verem a luz do Sol ,sentirem o seu calor que os faria desenvolver e tornar-se em plantas viçosas.
Mais tarde, os feijoeiros exibiriam,vaidosos, as vagens que penderiam dos seus frágeis e tenros caules que, num abraço atrevido ,se enroscariam nos milheiros, cujos peúnculos eram bastante mais robustos que os seus.
No alto dos caules dos milheiros nasceriam ,garbosas, as espigas de porte altaneiro .
No meio dos pés dos milheiros foram semeadas pevides de abóbora.Ao mesmo tempo que os milheiros e os feijoeiros iam crescendo ,o mesmo acontecia aos pés das abóboreiras.Mas estas plantas, cujos caules se desenvolvem rasteiramente, sentem a necessidade de procurar a luz que lhes é roubada pelos pés do milho e do feijão .Portanto, estendem os seus braços em direcção às beiradas dos campos .Estes ramos enchem-se de folhas largas e verdes e de flores em forma de câmpanulas , de cor amarelo-laranja.
Estas flores transformam-se em pequeninas abóboras que ,a pouco e pouco,vão crescendo,crescendo e se tornam em enormes frutos de cor amarelinha .
Eu gostava de visitar os campos,colher flores nas beiradas dos regos por onde corria a água que ia regar as "novidades".Era assim que eram designadas as diveras culturas.
Nas paredes, que separavam os campos, escorria a água que a terra não conseguia absorver.Aí as violetas e tufos de florinhas amarelas, a que chamávamos "Pascoínhas",desabrochavam ,cobriam os muros e inebriavam com o seu perfume quem por ali passava. De onde a onde viam-se abóboras pendentes dos muros.
As flores encantavam-me e tentavam-me. Não resistia e colhia lindos ramos que oferecia à minha Mãe ,mas não me esquecia da minha Professora.Sempre que levava um raminho de violetas para aquela querida Senhora que me ensinou as primeiras letras,ela ,carinhosamente ,colocava-o ao peito e exibia-o como se fosse um valioso troféu.
Mas outra coisa me espantava e me deixava perplexa:as abóboras, esses enormes frutos. Tão grandes, tão pesados e suspensos por uns caules tão tenros e frágeis.Como era possível que continuassem ali presos por cordas tão finas e nada as fizesse cair? Mais um prodígio da Mãe Natureza!...
Quando as abóboras atingiam a maturidade,eram roubados à planta-mãe que as havia feito nascer,crescer e desenvolver de tal modo que mal se podiam transportar.Eram levadas para o alpendre da casa e agora começavam a ser aproveitadas.Servem de alimento para as pessoas da casa que as consomem de variadas formas: em sopas macias e gostosas, em guisados de carne e muitos outros petiscos.
E no Natal os bolinhos de abóbora com açúcar e canela e muitas vezes com passas ,amêndoas e pinhões à mistura ?E aquele docinho de abóbora que se faz em jeito de compota ,mais ou menos espesso,com açúcar, pau de canela e algum sumo de limão e que ferve lenta e demoradamente ,até que atinja o ponto desejado? Como eu gosto destas iguarias feitas daqueles enormes frutos que me deixavam pasmada de admiração!
Sempre que tenho oportunidade ,dou comigo a fazer uma compotinha que conservo nuns pequenos frasquinhos para ser saboreada com umas bolachinhas e por vezes acompanhada de nozes ou amêndoas.
Lá na casa dos meus Pais ,quando a colheita era abundante, algumas abóboras eram dadas aos animais que as saboreavam com gosto.
Outras eram surripiadas ,sorrateiramente ,por mim e pelo meu irmão para fazermos máscaras que iluminávamos com velas e colocávamos de noite no caminho para assustar os transeuntes.Traquinices próprias da nossa tenra idade.
Recordar tudo isto ,dá-me imenso prazer e transpõe-me aos meus tempos de menina.
E haja muitas abóboras para confeccionar o docinho que ajuda a tornar a vida mais amena!...