sábado, 1 de dezembro de 2007

DOCINHO de ABÓBORA




Lá nos campos da quinta que me viu crescer,o milho e o feijão brotavam da terra ,ansiosos por verem a luz do Sol ,sentirem o seu calor que os faria desenvolver e tornar-se em plantas viçosas.
Mais tarde, os feijoeiros exibiriam,vaidosos, as vagens que penderiam dos seus frágeis e tenros caules que, num abraço atrevido ,se enroscariam nos milheiros, cujos peúnculos eram bastante mais robustos que os seus.
No alto dos caules dos milheiros nasceriam ,garbosas, as espigas de porte altaneiro .
No meio dos pés dos milheiros foram semeadas pevides de abóbora.Ao mesmo tempo que os milheiros e os feijoeiros iam crescendo ,o mesmo acontecia aos pés das abóboreiras.Mas estas plantas, cujos caules se desenvolvem rasteiramente, sentem a necessidade de procurar a luz que lhes é roubada pelos pés do milho e do feijão .Portanto, estendem os seus braços em direcção às beiradas dos campos .Estes ramos enchem-se de folhas largas e verdes e de flores em forma de câmpanulas , de cor amarelo-laranja.
Estas flores transformam-se em pequeninas abóboras que ,a pouco e pouco,vão crescendo,crescendo e se tornam em enormes frutos de cor amarelinha .

Eu gostava de visitar os campos,colher flores nas beiradas dos regos por onde corria a água que ia regar as "novidades".Era assim que eram designadas as diveras culturas.

Nas paredes, que separavam os campos, escorria a água que a terra não conseguia absorver.Aí as violetas e tufos de florinhas amarelas, a que chamávamos "Pascoínhas",desabrochavam ,cobriam os muros e inebriavam com o seu perfume quem por ali passava. De onde a onde viam-se abóboras pendentes dos muros.

As flores encantavam-me e tentavam-me. Não resistia e colhia lindos ramos que oferecia à minha Mãe ,mas não me esquecia da minha Professora.Sempre que levava um raminho de violetas para aquela querida Senhora que me ensinou as primeiras letras,ela ,carinhosamente ,colocava-o ao peito e exibia-o como se fosse um valioso troféu.

Mas outra coisa me espantava e me deixava perplexa:as abóboras, esses enormes frutos. Tão grandes, tão pesados e suspensos por uns caules tão tenros e frágeis.Como era possível que continuassem ali presos por cordas tão finas e nada as fizesse cair? Mais um prodígio da Mãe Natureza!...

Quando as abóboras atingiam a maturidade,eram roubados à planta-mãe que as havia feito nascer,crescer e desenvolver de tal modo que mal se podiam transportar.Eram levadas para o alpendre da casa e agora começavam a ser aproveitadas.Servem de alimento para as pessoas da casa que as consomem de variadas formas: em sopas macias e gostosas, em guisados de carne e muitos outros petiscos.

E no Natal os bolinhos de abóbora com açúcar e canela e muitas vezes com passas ,amêndoas e pinhões à mistura ?E aquele docinho de abóbora que se faz em jeito de compota ,mais ou menos espesso,com açúcar, pau de canela e algum sumo de limão e que ferve lenta e demoradamente ,até que atinja o ponto desejado? Como eu gosto destas iguarias feitas daqueles enormes frutos que me deixavam pasmada de admiração!

Sempre que tenho oportunidade ,dou comigo a fazer uma compotinha que conservo nuns pequenos frasquinhos para ser saboreada com umas bolachinhas e por vezes acompanhada de nozes ou amêndoas.

Lá na casa dos meus Pais ,quando a colheita era abundante, algumas abóboras eram dadas aos animais que as saboreavam com gosto.

Outras eram surripiadas ,sorrateiramente ,por mim e pelo meu irmão para fazermos máscaras que iluminávamos com velas e colocávamos de noite no caminho para assustar os transeuntes.Traquinices próprias da nossa tenra idade.

Recordar tudo isto ,dá-me imenso prazer e transpõe-me aos meus tempos de menina.

E haja muitas abóboras para confeccionar o docinho que ajuda a tornar a vida mais amena!...


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