quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

CAVALGAR...





Recuando aos anos trinta...
Nessa época ,Portugal carecia de tantas coisas que seria quase impossível enumerá-las.
Uma das maiores carências eram as vias de comunicação entre os povos.Por tal,os habitantes do interior ,praticamente, viviam num isolamento quase total.As deslocações eram feitas a pé ,ou então de jumento,burro ou cavalo.
Os meus avós maternos viviam a uma distância considerável ,mais de vinte quilómetros.De vez em quando eles gostavam de me ter com eles por uns dias e eu correspondia ao seu desejo.
Então lá vinha um dos seus homens de confiança buscar a mascote.Vinha montado num jumentinho,mas na volta era eu, a «amazona » que montava,e o criado segurava a rédea e guiava o animal. Mas os preparativos da viagem eram revestidos dum cerimonial aparatoso. Depois duma noite bem dormida e duma refeição reforçada, o burriquito era arreado convenientemente.Sobre o dorso era colocada a albarda ,selim grosseiro cheio de palha,para evitar que a carga o magoasse. Em cima da albarda era colocada uma espécie de liteira com assento almofadado e que tinha de ser muito bem presa à volta do corpo do animal para não correr o risco de se soltar.Este engenho era protegido por grades de madeira, excepto à frente para sairem as pernas, e era chamado de "cadeirinha".
Após este ritual chegava a minha Mãe com umas mantas e almofadas fofinhas para forrar a cadeirinha ,para que eu não me maçasse e chegasse bem ao destino.Só depois destes cuidados todos, eu era colocada no trono e presa com um cinto para não cair do jumentinho.
Começava assim a viagem que iria demorar umas longas horas.Pelo caminho íamos comendo uma merenda que a minha Mãe havia preparado com carinho e o jumentinho comia milho e bebia água.Ao entardecer chegávamos ao destino onde os meus Avós nos esperavam ansiosos.Depois duma bela refeição, eu contava todas as peripécias da viagem e seguidamente caía na cama,adormecia e só na manhã seguinte dava sinal de vida.O mesmo sucedia com o meu amável companheiro de viagem e com o burriquito que me trnsportou com tanta eficiência.
Fiz esta viagem muitas vezes antes da minha entrada na escola , mas,, depois disso só nas férias do Verão.
Lembro-me tão bem dessas aventuras,do burriquinho, toc, toc, toc ,por caminhos travessos ,e do paciente e fiel criado dos meus Avós que seguia ao lado da dupla,"cavalo e amazona",vigiando todos os passos,para que nada corresse mal.
Hoje ,felizmente,tudo mudou.Os automóveis substituiram as ilustres cavalgaduras desse tempo e coitadinhos dos burriquitos que estão quase em extinção.Quando me encontro com algum ,em pensamento,eu digo:obrigada, linda raça que tão bons momentos me proporcionastes na minha meninice .


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22 de Dezembro de 2007


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Adélia Barros

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