Sempre que passavas na rua
Eu espreitava atrás das cortinas
Da minha janela.
Via-te passar pressuroso
A caminho do trabalho.
Invadia-me um indómito desejo
De correr as cortinas,
Abrir de par em par
Minha janela
E gritar com todas as forças:
Pára ,espera-me ,porque eu vou descer.
Mas uma mão invisível segurava-me
E uma voz surda segredava-me:
Não faças isso,não fica bem.
És uma menina de família.
E eu adiava mais uma vez
A satisfação do meu desejo.
........
Os dias passavam.
A medo desviava um pouco a cortina
E olhava enternecida
Aquela silhueta que me fascinava.
Com alegria constatava
Que o meu ídolo também ,
Sempre que passava
Sob a minha janela,
Parava,olhava e sorria-me.
.......
Este gesto que me enternecia
Deu-me a coragem
Que há tanto tempo
Estava agrilhoada no meu peito.
..........
Manhã de Sol.
As aves chilreavam nos ramos das árvores.
O chafariz do jardim
Impulsionava os seus jactos de água
Com mais força do que habitualmente.
As pessoas que todos os dias
Passavam apressadas na minha rua,
Naquele dia pareciam não ter pressa.
......
E eu lá estava no meu posto de vigia.
Mas desta vez de cortinas corridas
Com a janela escancarada.
E debruçada no peitoril
Em jeito de desafio a todos os preconceitos
Que me tinham mantido silenciada
Durante tanto tempo,
Esperando ver assomar
O impulsionador dos meus desejos mal contidos.
.....
Quando chegou ,olhou-me
E parou como hahitualmente.
Desta vez nenhuma força invisível me deteve.
Acenei-lhe e pedi que me esperasse.
Desci, duas a duas , as escadas.
Transpus a porta de entrada da minha casa
E corri ao seu encontro.
....
Peguei-lhe na mão,
Ele enlaçou-me com seus braços fortes.
Beijei-lhe a face ,
Ele apoderou-se dos meus lábios.
E um beijo doce e prolongado
Premiou toda aquela longa espera
Que me trouxe tanto tempo ansiosa.
....
Para quê palavras?
Aquele abraço, aquele beijo,
Tanta ternura à mistura,
Selaram um amor
Há tanto tempo sentido
Mas que só agora ganhou forma.
...
Bendito seja o AMOR!...
Bendita a TERNURA!...
12de Dezembro de 2007
Adélia Barros
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