quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O ENTERRO DO CANÁRIO


Na sua gaiola branca

Vivia o belo canário.

No alto do seu poleiro

passava os dias mirando

Tudo o que o rodeava.

Tinha roupagem tão linda

Tão talhadinha a preceito

Duma cor tão chamativa

Que dava gosto olhá-lo.

Mal a manhã despontava

O nosso belo canário

Acordava toda a gente

Com afinados trinados.

Comia com delicadeza o seu alpiste,

Bebia gota a gota a água fresquinha

Colocada na pucarinha de louça.

A seguir ao seu repasto,

Tomava banho com gotinhas

Que apanhava com o bico

E lançava sobre as sedosas penas

Que ficavam mais suaves e luzidias.

Como ele apreciava a gema de ovo cozida!

E um raminho de erva milheira

Que meu Pai ,de vez em quando,

Colhia no campo junto do rego da água?

Eu mirava aquelas penas

De cor tão amarelinha

Que um dia fiz esta pergunta ingénua:

-Papá, o canário tem peninhas amarelas,

Porque come muita gema de ovo?

-Não ,minha filha, são desta cor,

Porque os pais também tinham peninhas desta cor!...

Eu adorava o meu lindo passarinho.

Deliciava-me com o seu melodioso canto.

Mas um dia, mas que dia tenebroso,

O querido canarinho

Apareceu caído na gaiola

De olhinhos cerrados

E biquinho pregado.

Não quis acreditar

No que os meus ouvidos escutaram:

-O passarinho morreu!...

Chorei copiosamente.

Segurei no meu amigo

Que durante muito tempo

Tinha feito parte do meu mundo encantado.

E ,para lhe demonstrar o meu amor,

Fui ,com os amigos,

Tratar do seu enterro.

Num cantinho do jardim

Fizemos uma cova

E enterramos ali o meu amiguinho

Que me deixou muitas saudades.

Cobrimos aquele espaço

Com muitas flores colhidas no jardim.

E para assinalar aquele lugar,

Que para mim ficou a ser sagrado,

Coloquei uma cruz que eu fiz com dois pauzinhos.

E que ninguém ousasse profanar

Aquele lugar santo

Onde o meu cantor de penas amarelas

Repousava agora sem poder contemplar

A luz do Sol ,comer a geminha do ovo

Que eu cri por muito tempo

Ser a causa daquela linda cor

Que lhe tingia as peninhas macias como seda!

E hoje bendigo aquele meu gesto,

Porque não duvido

Que o meu canário tinha alma

Como qualquer mortal!...

7 de Dezembro de 2007

Adélia Barros

1 comentário:

Anónimo disse...

Bahhhhhhhhhhhh esta não entendi!!!