domingo, 30 de dezembro de 2007

VERSINHOS AO MENINO JESUS...


Quando remexia em papéis que fui guardando ao longo da minha carreira ,encontrei alguns trabalhos feitos por alunos meus e entre eles alguns singelos versinhos dedicados ao Menino Jesus .Era um desafio que eu lhes lançava todos os anos :fazer versinhos ao Menino Jesus.E apareciam coisas lindas,singelas como eles.Vou trascrever alguns desses trabalhos:
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Ó meu Menino Jesus
Estás aí tão geladinho!
Vou trazer-te um casaquinho
Que a minha Mãe fez pra mim
Quando eu era pequenino.
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Ó meu Menino Jesus
Boquinha de marmelada
Dou-te um beijinho dos meus
Já que não tenho mais nada.
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Pra te encontrar fui guiado
Por uma estrela de luz.
Não foi fácil encontrar-te
Ó meu Menino Jesus.
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Estás aí com tanto frio
Nessas palhas deitadinho,
Vou pegar-te no meu colo
E trazer-te apertadinho!
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Não tenho prendas tão caras
Como aquelas dos Reis magos.
Dou-te alguns dos meus brinquedos
Que eu sei que não foram caros.
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Não sei fazer nenhum doce,
Eu sou muito pequenina.
Dou-te da minha merenda
Que trago na sacolinha.
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O Menino e sua Mãe
Vão montados no burrinho.
S. José segue ao seu lado
Vai a pé no seu caminho.
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Nossa Senhora está triste
Não tem roupa pró Menino.
Vou pedir à minha Mãe
Que lhe dê um casaquinho.
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S.José está de joelhos
Sempre a olhar para o Menino
Tem medo que venha alguém
Roudar o seu Pequenino.
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Lá em casa onde moro
Nunca ouvi falar de ti,
Mas já sei que és pobrezinho,
Não tens roupa pra vestir
E dormes nestas palhinhas
Que te puseram aqui.
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Estes últimos versos, tão cheios de ternura, foram escritos por uma aluna que professava,juntamente com os seus familiares,outra religião que não a católica. Mas nem por isso deixava de colaborar em todos os eventos que se efectuavam durante a quadra natalícia.
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30 de Dezembro de 2007
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Adélia Barros

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

EU VI A AURORA BOREAL...



Estávamos em pleno Inverno.Dia vinte e cinco de Janeiro de 1938.Tempo de frio ,chuvas intensas e ventos fortes . Por vezes a neve resolvia presentear-nos com a sua visita. Os campos e os caminhos apareciam todas as manhãs cobertos de geada transparente como cristal,o que dificultava o acesso a esses lugares.Era necessário redobrar os cuidados nas caminhadas que não podiam deixar de ser feitas. Os agricultores tinham de deixar que a geada derretesse para poderem colher nos campos os produtos agrícolas para sua subsistência e dos seus animais domésticos.
Este dia estava particularmente frio.Na minha aldeia quase ninguém ousava sair à rua.Nas lareiras crepitava a fogueira e todos procuravam aninhar-se à sua volta para resistirem aos rigores das temperaturas excessivamente baixas.
Na minha casa ,além da fogueira habitual, tinha-se acendido o forno para cozer a broa que a minha mãe amassou como fazia sempre.É que ela não confiava a ninguém esta tarefa!
Se ,de dia, poucas pessoas saíam de casa ,quando a noite caía ninguém mais deitava o nariz fora da porta ,excepto em situações especiais:buscar mais lenha para manter a lareira acesa,tratar algum animal que estivesse a necessitar de cuidados especiais ou então ir ao armazém, onde se guardavam os produtos agrícolas ,abastecer-se de algum que eventualmente tivesse acabado.
No silêncio da noite,qualquer som, por mais insignificante, toma uma dimensão enorme.Foi o que aconteceu nessa noite:ruídos estranhos ,semelhantes à queima de lenha seca,começaram a ser ouvidos por todos nós que estávamos à volta da lareira.O Manuel,nosso feitor, a quem, carinhosamente,chamávamos "Pionas,"ao ouvir estes barulhos , assomou ao postigo da porta para se inteirar do que se passava.Mal deitou a cabeça fora da pequena janela, apercebeu-se que o céu estava vermelho da cor do fogo, parecendo em chamas, donde se desprendiam raios luminosos. Gritou para todos nós:venham ver ,é o fim do Mundo.De imediato gritos aflitivos se fizeram ouvir em toda a aldeia,ao mesmo tempo que se dirigiam para a Igreja onde o Sr Padre António se encontrava, tentando acalmar os seus paroquianos. Todos nós lá de casa fizemos o mesmo,largando tudo.Só o Manuel Pionas ficou mais algum tempo para enfornar o pão que estava na masseira ,tapar o forno e fechar todas as portas e janelas de casa.Só depois disso ,foi ter connosco à Igreja.

As pessoas vinham munidas de lampiões que à pressa tinham conseguido pegar.Mas não foi necessário acendê-los,porque do céu emanavam clarões de luz dum brilho sanguinolento.
As pessoas corriam desesperadamente ,atropelando-se,escorregando aqui e ali sem pensar nas consequências funestas que poderiam advir dessa correria desenfreada. Uma senhora, já de certa idade, que corria e gritava ao meu lado, levando pela mão uma netinha mais ou menos da minha idade, escorregou na calçada ,caíu desamparadamente e partiu um pé.Mesmo assim cheia de dores só parou na Igreja junto da multidão enorme que ali se aglomerava.
Os gritos aflitivos daquela boa gente enchiam a Igreja e faziam-se ouvir por toda a freguesia:É o fim do Mundo; é a guerra ,acudam...
O bom do Sr. Padre António tentava acalmar os seus paroquianos ,explicando que o fenómeno que se estava observando, não era mais do que uma Aurora Boreal ,fenómeno que era visto muitas vezes nas regiões do norte do Globo. Ao mesmo tempo ia rezando com eles.
Esta situação aflitiva durou algumas horas até que a luz do dia ofuscou a luz que tinha incendiado o céu durante a noite longa.
Depois do dia amanhecer e com as sábias palavras do Sr. Padre, o bom povo da minha aldeia,acalmou e voltou em paz para suas casas.No entanto aquela visão dantesca perdurou por muito tempo, talvez por toda a vida, na memória daquela boa gente, assim como perdurou na minha até hoje.E já se passaram setenta anos!...Eu tinha nessa altura quatro anos e nove meses. E essa imagem foi tão forte que consigo descrever tudo o que presenciei e reproduzir textualmente o que ouvi.
No dia seguinte àquele acontecimento,o jornal diário que meu Pai assinava, trazia noticiado o fenómeno observado em todo o céu de Portugal e de outros países.Claro que eu não li a notícia,mas ouvi meu pai lê -la e comentá-la ,tentando explicar, da melhor maneira que sabia, as causas daquele "Belo Horrível".
Achei por bem deixar aqui a descrição deste acontecimento que tanto me impressionou e ,porque não dizer,que tanto me maravilhou!...


27 de Dezembro de 2007


Adélia Barros

domingo, 23 de dezembro de 2007

NUNCA PERDER A FÉ...







Perdi a esperança
Para as coisas simples.
Aquele singelo voo de ave
Que me fazia sonhar;
Aquela flor que desabrochava
No canteiro da minha varanda;
O romper da aurora
Cuja luz inundava o meu quarto;
O pôr-do-sol e o mar
Que pelas tardes calmas
Observava enternecida
Do alto do meu quarto andar;
O sol morno de Setembro,
O sorriso doce,
O olhar penetrante
Dos netos do meu amor;
Aquele frio gostoso
Das noites de Dezembro,
Noites de aniversários
E noites de Natal.
Tudo perdeu seu brilho,
Porque perdi a esperança,
A esperança
De não ter força
Para trilhar o caminho,
Cada vez mais íngreme e curto,
Que subo com medo
De não chegar ao fim,
E de não encontrar
No topo dessa escarpa
Uns olhinhos ternos e brilhantes,
Um sorriso doce como mel,
O retrato fiel do meu menino
Que nasceu um dia e me fez feliz.
Mas eis que Deus não quis
Que essa esperança
Morresse comigo
Quando chegasse ao topo
Da minha caminhada.
E a meio da encosta,
E como prenda de Natal,
Trouxe-me pela mão
Do meu menino, hoje homem e pai,
O renascer da Esperança,
O acreditar
Que nunca é tarde
Para tudo acontecer.
Obrigada Menino Jesus!...
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22 de Dezembro de 2007
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Adélia Barros

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

DEUS FEZ TUDO TÃO PERFEITO...


Como Deus fez tudo tão perfeito!...
Fez as flores tão belas
Que nos enternecem,
Tão coloridas que a todos encantam,
E enebriam com o seu perfume.
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Criou as borboletas
Coloridas e leves
Esvoaçando de flor em flor,
Beijando-as de mansinho.
As flores felizes estremecem
Ao sentir o suave toque
Das suas carícias.
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Fez as abelhas,
Pequeninas,buliçosas,
Que passam os seus dias
Num rodopio constante
Recolhendo das flores
O capitoso néctar
Com o qual produzem o mel dourado
Para adoçar as nossas vidas,
Por vezes tão amargas.
..........
Criou as aves,
Com asas para voar
E ficarem mais perto do Céu
Para adorarem o seu Criador.
Deu-lhes a nobre missão
De alegrarem os nossos corações
Com os melodiosos cantos
Que ao romper da Aurora
Nos despertam para a Vida.
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Fez tudo tão perfeito,
Sem esquecer os mínimos detalhes.
A rosa tem espinhos
Para que a toquemos com cuidado
Sem amachucar suas delicadas pétalas.
O Céu é azul para podermos olhá-lo
Sem ferir a melhor dádiva
Com que nos dotou:os nossos olhos.
..........
E qual a cor das lágrimas
Que tantas vezes correm sem parar
Banhando nosso rosto,
Molhando nossas roupas
Sem tempo para as secarmos?
Essas lágrimas choradas em silêncio
Longe de olhares inquiridores!
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São incolores !...
Pois só assim podem ser encobertas
Sem que ninguém se aperceba
Do que nos vai na Alma.
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Deus é o Pai da Perfeição!...
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20 de Dezembro de 2007
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Adélia Barros

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

CAVALGAR...





Recuando aos anos trinta...
Nessa época ,Portugal carecia de tantas coisas que seria quase impossível enumerá-las.
Uma das maiores carências eram as vias de comunicação entre os povos.Por tal,os habitantes do interior ,praticamente, viviam num isolamento quase total.As deslocações eram feitas a pé ,ou então de jumento,burro ou cavalo.
Os meus avós maternos viviam a uma distância considerável ,mais de vinte quilómetros.De vez em quando eles gostavam de me ter com eles por uns dias e eu correspondia ao seu desejo.
Então lá vinha um dos seus homens de confiança buscar a mascote.Vinha montado num jumentinho,mas na volta era eu, a «amazona » que montava,e o criado segurava a rédea e guiava o animal. Mas os preparativos da viagem eram revestidos dum cerimonial aparatoso. Depois duma noite bem dormida e duma refeição reforçada, o burriquito era arreado convenientemente.Sobre o dorso era colocada a albarda ,selim grosseiro cheio de palha,para evitar que a carga o magoasse. Em cima da albarda era colocada uma espécie de liteira com assento almofadado e que tinha de ser muito bem presa à volta do corpo do animal para não correr o risco de se soltar.Este engenho era protegido por grades de madeira, excepto à frente para sairem as pernas, e era chamado de "cadeirinha".
Após este ritual chegava a minha Mãe com umas mantas e almofadas fofinhas para forrar a cadeirinha ,para que eu não me maçasse e chegasse bem ao destino.Só depois destes cuidados todos, eu era colocada no trono e presa com um cinto para não cair do jumentinho.
Começava assim a viagem que iria demorar umas longas horas.Pelo caminho íamos comendo uma merenda que a minha Mãe havia preparado com carinho e o jumentinho comia milho e bebia água.Ao entardecer chegávamos ao destino onde os meus Avós nos esperavam ansiosos.Depois duma bela refeição, eu contava todas as peripécias da viagem e seguidamente caía na cama,adormecia e só na manhã seguinte dava sinal de vida.O mesmo sucedia com o meu amável companheiro de viagem e com o burriquito que me trnsportou com tanta eficiência.
Fiz esta viagem muitas vezes antes da minha entrada na escola , mas,, depois disso só nas férias do Verão.
Lembro-me tão bem dessas aventuras,do burriquinho, toc, toc, toc ,por caminhos travessos ,e do paciente e fiel criado dos meus Avós que seguia ao lado da dupla,"cavalo e amazona",vigiando todos os passos,para que nada corresse mal.
Hoje ,felizmente,tudo mudou.Os automóveis substituiram as ilustres cavalgaduras desse tempo e coitadinhos dos burriquitos que estão quase em extinção.Quando me encontro com algum ,em pensamento,eu digo:obrigada, linda raça que tão bons momentos me proporcionastes na minha meninice .


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22 de Dezembro de 2007


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Adélia Barros

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

TEU AMOR É COMO UM RIO...


Teu amor é como um rio
Corre corre sem parar.
Teu amor corre p'ra mim,
O rio corre p´ro mar.

......

Antes de chegar a mim
Teu amor passa tormentos.
Antes de chegar ao mar
O rio passa barrancos.

......

Teu amor,de altos e baixos,
Vai resistindo ao tempo.
O rio, com suas curvas,
Chega ao mar no seu momento.

......

Dos meus braços quando quer
Teu amor pode escapar.
Mas o rio nem que queira
O seu destino é o mar.

......

Mas com o passar do tempo
Teu amor volta sorrindo,
Porque o rio te ensinou
Que o mar é o melhor destino.

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Aos meus braços ansiosos
Volta sempre meu amor,
Eu aprendi com o mar
A esquecer e perdoar
As tuas crises de humor.

18 de Dezembro de 2007

........Adélia Barros

domingo, 16 de dezembro de 2007

PRIMEIROS TEMPOS NA ALDEIA ADOPTADA....







Minha aldeia natal pertence a uma das freguesias do concelho de Mesão Frio-Vila Marim.Aqui nasci,cresci e estudei os primeiros anos de ensino.Para poder continuar os estudos e concluir o curso que desejava,tive de estar interna num colégio em Lamego,cidade histórica e que,segundo alguns lamecenses, assistiu às primeiras cortes realizadas em Portugal.
De seguida, fui para Vila Real,capital da província Trás -os -Montes e Alto Douro.
Depois de formada, trabalhei dois anos na minha freguesia.Porém ,pelo casamento,fui viver para outra freguesia do meu concelho-Barqueiros.Aqui comecei a leccionar e ,portanto,esta aldeia passou a ser a minha ,por adopção.Nesta pequenina terra ,banhada pelo rio Douro,nasceram os meus filhos .Estes dois acontecimentos tão importantes da minha vida ,foram mais uma forte razão para me dedicar ,de alma e coração,a esta linda aldeia.
Barqueiros não é apenas uma linda aldeia, é uma terra de tradições e costumes muito antigos que ainda hoje se praticam.
Grande parte da população dedica-se à agricultura, vitivinicultura e à cultura de árvores de fruto,em especial os citrinos e boas cerejas.
O artesanato também tem muita importância na vida desta terra:os bordados e as rendas que são primorosamente executados pelas mãos das habilidosas mulheres deste cantinho;alfaiataria,cestaria, miniaturas de barcos rabelos e típicas castanholas que os participantes masculinos dos ranchos folclóricos manejam com destreza durante as suas actuações.
Barqueiros tem um rico património cultural e arquitectónico.São dois os ranchos folclóricos que se rivalizam.Quanto ao património arquitectónico podemos apreciar a Igreja Matriz, a Capela de Nossa Senhora da Conceição,casas senhoriais, o Pelourinho e o Cruzeiro.
Paisagens maravilhosas não faltam nesta aldeia ,com os pés no Douro e encimada pelo monte de S.Silvestre, que é dos mais lindos Miradouros dos muitos que abundam nesta região.
Quando vim viver para Barqueiros ,os barcos rabelos já não tinham a mesma utilidade de há muitos anos atrás.Eram apenas utilizados para fazer a travessia dos habitantes duma o doutra margem,quando necessitavam de qualquer serviço.
Desde 1792,data em que foi fundada a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro,oa barcos rabelos começaram a ser utilizados para transportar o vinho do Porto,também denominado vinho Fino, feito das saborosas uvas cultivadas nas vinhas do Alto Douro que possuem um solo previlegiado e dotado de certas propriedades que permitem que esse vinho seja único em todo o Mundo.
Os marinheiros ,que trabalhavam nos barcos eram comandados pelo Mestre ou Arrais ,e a sua vida era muito dura desde o começo da viagem no Alto Douro até Vila nova de Gaia ,onde o vinho era armazenado para aí ser continuada a sua preparação.
Durante cada viagem, que durava vários dias, e às vezes semanas ,os marinheiros tinham de ultrapassar muitas dificuldades ,quer em terra, quer no rio.Em muitos lugares o leito do rio Douro tem cachoeiras e saltos que tornam o rio quase inavegável.Quando os barcos chegavam a esses sítios tinham de ser puxados por juntas de bois que actuavam nas margens ,auxiliando deste modo os marinheiros que dentro dos barcos lutavam como leões para levarem a bom termo as suas viagens.
Um dos locais em que o rio era muito perigoso ,era precisamente Barqueiros .Aqui o rio saltava de penedo em penedo e formava rápidos e cachoeiras difíceis de transpor.Só à custa de muito trabalho e muita Fé em Deus e em Nossa Senhora da Boa Passagem é que as suas fainas tinham êxito.
Num dos penedos que ladeavam as íngremes margens do Douro ,no lugar da Galeira, os mareantes cavaram um nicho onde entronizaram uma imagem de Nossa senhora da Boa Passagem.Sempre que qualquer barco passava naquele sítio , os marinheiros paravam o barco ,ajoelhavam e por alguns minutos faziam as suas preces.Essa imagem ainda hoje se encontra no nicho cavado há tantos e tantos anos e a fé dos Barqueirenses continua inabalável.
Os ranchos folclóricos são um bem cultural desta terra .Algumas danças e cantares referem- se a actividades agrícolas, como por exemplo as vindimas, e aos duros trabalhos dos mareantes e dos seus arrais. Os participantes dos ranchos cantam , dançam e tocam suas castanholas ,elaboradas por si próprios, com tal entusiasmo, que chega a comover quem assiste ás suas actuacções.
Não posso deixar de referir o nome de um dos filhos desta terra,Domingos Monteiro, no qual todos têm muito orgulho. Nasceu em 1903 e faleceu em 1980.Formou-se em Direito,foi um grande Escritor,Jornalista e Editor.Deixou vasta obra em prosa, em verso ,escritos representados em teatro e cinema.Apenas vou citar os títulos de duas obras suas : "Crepúsculo,"de poesia e "O Bem E O Mal"em prosa.Colaborou em Revistas,ajudou a criar as Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian e tantas coisas que a seu tempo poderei falar em pomenor.
Vou falar mais um pouco do meu trabalho lectivo logo que cheguei à minha escola.
Estávamos no início do ano lectivo 53/54.Tomei a meu cargo treze alunos da 4ªclasse e ,se não estou em erro,mais de trinta e cinco da 2ª.Eu esperava o meu primeiro filho que nasceu daí a dois meses.Comecei o meu tabalho com tanto ânimo e tanta dedicação que a minha barrigona nunca me atrapalhou ,e posso dizer que até me dava mais força para levar a cabo os objectivos a que me tinha proposto. Era aquele coraçãozinho ,que batia dentro de mim ,que a cada momento parecia dizer-me:"Mamã, faz por estes meninos tudo o que puderes, dá-lhes todo o carinho e atenção que eles precisam.
Tive de trabalhar a dobrar ,porque aquelas crianças estavam atrasadíssimas.Mas o meu tabalho ,a minha exigência e a sua aplicação faziam verdadeiros milagres a cada dia.
O ano lectivo ia passando,agora com mais um assistente de grande peso,que a cada dia ia crescendo sob os meus cuidados e carinhos e com a dedicação dos meus alunos .
Chegou o fim do ano e dez alunos da 4ªclasse foram a exame .Escusado será dizer que todos eles prestaram boas provas e alcançaram a aprovação.Mas alguns deles foram aprovados com distinção.Já não me recordo do nome de todos os que se distinguiram pelas suas excelentes provas ,mas há um que nunca esqueci.E por que será que eu o lembro a qualquer momento,mesmo estando ele do outro lado do Oceano?Várias circunstâncias se aglutinaram para que ele seja o meu aluno de eleição.Além de ser aplicado trabalhador e atento era educado respeitador e um bom colega.No exame foi um dos alunos distintos.
Algum tempo depois de ter completado o Ensino Primário, embarcou para o Brasil encontrar-se com quatro irmãos mais velhos que lá residiam.Mesmo longe nunca me esqueceu, escrevia muitas vezes e eu correspondia a toda essa dedicação.
Fui professora de mais dois irmãos que foram igualmente alunos excelentes e em nada inferiores ao Manuel era este o seu nome.Mais tarde ,terminados os estudos,
foram juntar-se aos irmãos no Brasil, mas a exemplo do Manuel nunca perderam o contacto comigo.
Visitamo-nos algumas vezes ora cá ora lá.
Assim aconteceram os meus primeiros anos na minha aldeia, por adopção, que tem como Patrono S.Bartolomeu ,festejado todos os anos no dia vinte e quatro de Agosto.São festas muito animadas,quer sob o aspecto religioso, quer no que diz respeito a diversões populares.
Há outra celebração anual no dia oito de Dezembro ,dia de Nossa Senhora da Conceição .Na capela, que tem o seu nome ,celebra-se Missa e faz-se a cosagração de todas as mães a Nossa Senhora,Rainha de Portugal e Mãe de Jesus.
Recordo com saudades os tempos que aí passei e sobretudo o grande número de bons e dedicados alunos que passaram pela minha mão e tantas glórias me deram, prestando excelentes provas. Deixo um abraço do tamanho do Mundo a todos eles....
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19 de Dezembro de 2007
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Adélia Barros

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

NÃO DEI PELO TEMPO PASSAR...


Nunca tinha sentido passar o tempo...
Nunca o passar do tempo
Me tinha perturbado...
.....
A Primavera lançava-me pétalas de flor
Quando passavava
Sob as árvores do meu quintal.
E eu não dava conta
Que o tempo ia passando...
.....
O Verão atirava-me
As suas lufadas de calor
E eu deliciava-me,sem pensar,
Que o tempo entretanto passava...
.....
Quando eu passava,
O Outono juncava o chão de folhas secas
Que eu, com desdém ,e sem mágoa,
Levantava com o pé,
E dava-as ao vento.
.....
E o Inverno fustigava-me
Com rajadas de vento e pingos de chuva,
Como que a lembrar-me
Que o tempo estava passando...
.....
Nunca senti passar o tempo...
E agora o tempo está-se vingando
Do meu desdém.
.....
E eu humildemente
Aceito sua vingança
Porque sei que já não sou.
.....
Ó minha algre e ardente mocidade,
Volta, nem que seja só por um momento,
E que eu possa merecê-la.
.....
Eu aceitarei humildemente,
Sem revolta nem amargura,
Todas as dores, todas as penas
E a maior delas...a de perdê-la novamente!...
14 de Dezemdro de 2007
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Adélia Barros

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

VOLTARAM AS ANDORINHAS....




Com a chegada dos primeiros frios do Outono ,as andorinhas juntam- se em bandos para regressarem aos países quentes e aí passarem o Inverno.

Os céus de Portugal ficam mais tristes,quer pela presença, quase constante ,de densas nuvens,quer pela ausência da moldura negra que enfeita aquela tela,que é o firmamento, iluminada pelo Sol brilhante ,tão peculiar no nosso Verão.

É lindo observar as andorinhas ,esvoaçando sobre os telhados das habitações ,mirando atentas em todas as direcções,esperando as companheiras de viagem.

Agora os bandos são mais numerosos do que na Primavera, aquando da sua chegada ao nosso País ,visto que os filhos que nasceram já vão em companhia dos seus progenitores.

A chuva , o vento,a neve e um frio enregelante, vão preenchendo so nossos dias neste Inverno ,acompanhados de algumas constipações e gripes que teimam em passar.

Todos nós começamos a ficar saturados desta estação fria e chuvosa, mas que não deixa de ter os seus encantos.Pois não é no rigor do Inverno que nós festejamos o nascimento do Menino Jesus?

Todos ansiamos pela chegada da Primavera que virá amenizar o tempo e os nossos ânimos.

Estamos atentos aos sinais que nos alertam da sua chegada:o aparecimento das primeiras folhas e flores que começam a vestir as árvores que impiedosamente foram despidas pelas intempéries do Inverno ;os primeiros trabalhos agrícolas começam a ser feitos pelos trabalhadores que esperavam pelos dias mais temperados para dar início às sementeiras.

Mas o mais esperado prenúncio da estação das flores é o regresso das andorinhas.

O céu azul do nosso Portugal começa de novo a ser povoado de inúmeros bandos dessas negras

aves enfeitadas de gravatas brancas.Vemo-las a sobrevoar os telhados para iniciarem nos beirais a construção dos seus ninhos.É um constante vaivém ,buscando pauzinhos e barro para fazerem a base das pequeninas casas que têm de ficar muito seguras.Seguidamente arrastam palhinhas com que forram os seus ninhos para ficarem fofinhos e aconchegantes e assim proporcionarem aos seus filhinhos o maior conforto.

Estas casas construídas ,deixem-me passar esta fantasia,por "mãos" tão hábeis ,mais parecem obras-primas dum qualquer famoso arquitecto. E ficam de tal modo bem construídas ,que resistem aos ventos e chuvas e na próxima Primavera lá estão elas, à espera dos seus inquilinos.

E curioso é que há andorinhas que voltam mais do que uma Primavera aos mesmos ninhos!...

Esta época do ano é animada pela presença destas aves tão elegantemente vestidas de negro e branco que voam sem cessar ,primeiro para fazerem os ninhos, depois em busca de alimentos para os seus bebezinhos que esperam ansiosos ,de biquinhos abertos, os mimos que os seus progenitores lhes oferecem.

A Primavera é, portanto ,por tudo o que eu já referi e por muito mais, a estação do ano mais amada e desejada.

Bendita sejas ,Primavera!

Benditas sejam as andorinhas!

......

14 de Dezembro de 2007


......

Adélia Barros

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

OS OLHOS DO MEU ...AMOR


Os olhos do meu amor
Castanhos dourados,
Deixaram os meus loucos
E levaram-nos presos.
...
Os meus olhos,os meus tesouros,
Já não sáo meus.
São do meu amor
Que os prendeu aos seus.
...
Quero olhar em volta,
Ver outros olhos,
Outros tesouros, outras riquezas,
Mas não consigo.
...
Olhos do meu amor,
Liberta os meus só por momentos!
Deixa admirar outras belezas.
...
E quem sabe?
Se libertares os meus,
Tu ficas livre para te prenderes a outros
E deixares-me gozar
O sabor da Liberdade,
Nem que seja por efémeros instantes!
...
Se soltares as amarras dos meus olhos,
Talvez eu deseje
Ficar de novo presa a ti.
Pois só sabemos dar valor
Ao que tivemos,
Se o perdermos
Nem que seja por momentos!
...
12 de Dezembro de 2007
...
Adélia Barros

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

AQUELA JANELA...


Sempre que passavas na rua
Eu espreitava atrás das cortinas
Da minha janela.
Via-te passar pressuroso
A caminho do trabalho.
Invadia-me um indómito desejo
De correr as cortinas,
Abrir de par em par
Minha janela
E gritar com todas as forças:
Pára ,espera-me ,porque eu vou descer.
Mas uma mão invisível segurava-me
E uma voz surda segredava-me:
Não faças isso,não fica bem.
És uma menina de família.
E eu adiava mais uma vez
A satisfação do meu desejo.
........
Os dias passavam.
A medo desviava um pouco a cortina
E olhava enternecida
Aquela silhueta que me fascinava.
Com alegria constatava
Que o meu ídolo também ,
Sempre que passava
Sob a minha janela,
Parava,olhava e sorria-me.
.......
Este gesto que me enternecia
Deu-me a coragem
Que há tanto tempo
Estava agrilhoada no meu peito.
..........
Manhã de Sol.
As aves chilreavam nos ramos das árvores.
O chafariz do jardim
Impulsionava os seus jactos de água
Com mais força do que habitualmente.
As pessoas que todos os dias
Passavam apressadas na minha rua,
Naquele dia pareciam não ter pressa.
......
E eu lá estava no meu posto de vigia.
Mas desta vez de cortinas corridas
Com a janela escancarada.
E debruçada no peitoril
Em jeito de desafio a todos os preconceitos
Que me tinham mantido silenciada
Durante tanto tempo,
Esperando ver assomar
O impulsionador dos meus desejos mal contidos.
.....
Quando chegou ,olhou-me
E parou como hahitualmente.
Desta vez nenhuma força invisível me deteve.
Acenei-lhe e pedi que me esperasse.
Desci, duas a duas , as escadas.
Transpus a porta de entrada da minha casa
E corri ao seu encontro.
....
Peguei-lhe na mão,
Ele enlaçou-me com seus braços fortes.
Beijei-lhe a face ,
Ele apoderou-se dos meus lábios.
E um beijo doce e prolongado
Premiou toda aquela longa espera
Que me trouxe tanto tempo ansiosa.
....
Para quê palavras?
Aquele abraço, aquele beijo,
Tanta ternura à mistura,
Selaram um amor
Há tanto tempo sentido
Mas que só agora ganhou forma.
...
Bendito seja o AMOR!...
Bendita a TERNURA!...
12de Dezembro de 2007
Adélia Barros

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

OS AMANTES DO UNIVERSO...


É hora do Crepúsculo !...
O Sol cansado da sua tarefa diurna
Anseia pelo repouso merecido.
....
Durante suas horas de trabalho
Aqueceu tantos corpos com frio,
Fez brotar sementes
Lançadas à terra por mãos calejadas.
....
Amadureceu frutos
Que irão satisfazer a fome ou a sede
De quem tiver a sorte
De poder saboreá-los.
....
Enxugou lençóis lavados e cheirosos
Que irão cobrir a cama,
Onde corpos sedentos de amor
Irão saciar seus desejos de paixão.
....
Mas o Astro -Rei
Não se detém por muito tempo,
Porque a Lua que o espera ofegante
Tem alguns instantes para lhe dedicar.
....
Beija a sua amada
Com frémitos de avidez.
Abraça-a ternamente
E nesse abraço enche-a de luz
Que irá inundar os corpos
Que a esperam sob os ramos frondosos
Das velhas árvores que povoam o parque,
Que àquela hora está silencioso
....
E se o abraço é forte,
A Lua vai cheia de vigor
Transmitir essa força aos seus cúmplices
E proporcionar-lhe uma noite quente
De luxúria e prazer.
....
Só quando a Aurora desponta,
Os amantes se apercebem
Que um novo dia começou.
....
E a sua inspiradora musa
Sai apressada para aproveitar
Mais uns ténues segundos
Nos braços do seu Rei do Universo!..
........
10 de Dezembro de 2007
.....
Adélia Barros

domingo, 9 de dezembro de 2007

QUANDO NUM SONHO.......


Quando num sonho
Multicolor, de encantadas magias,,
Tu me desejas,
Eu voo para ti
E cedo ao teu desejo copioso
Que se aninha no meu peito ansioso.
.....
Quando sonho contigo
Vejo teus olhos faiscarem.
Teu carinho é mais quente
Do que nos tempos em que tu estavas.
.....
Vem o desejo de te ter de novo
Sob os lençóis alvos e macios
E sentir-te ,como outrora,
Travesso e sensual.
....
Estes sonhos
Que na noite me inundam
E brotam de mim como copiosos rios,
Não são mais que desejos
De ser de novo tudo o que já fui !...
....
10 de Dezembro de 2007
....
Adélia Barros

POR TODOS OS LUGARES POR ONDE PASSO.....














Por todos os lugares por onde passo,
Reencontro-te e me perco
Em momentos de fantasia.
Instantes que teimam em ficar,
Mas nada faço
Para que se esfumem.
Esses instantes de emoção
Fazem-me sonhar
E abrasam meu coração...


Por todos os lugares por onde passo
Sinto tua presença,
Reconheço o teu vulto,
O seu calor me invade
E me arrebata,tão perto e tão real.


Por todos os lugares por onde passo,
Ao sentir-te, ao reviver-te,
Vou-me encontrando.
E o meu ser se transfere
Para teus braços, buscando os meus.


9 de Dezembro de 2007


Adélia Barros


NUNCA SERÁ TARDE...



Nunca será tarde
Para cantarolar
Cantigas do meu tempo de menina.
Nunca será tarde
Para voar ao vento,
Desbaratar desilusões
E rir de novo entre flores.
Nunca será tarde
Para mergulhar no íntimo
Das minhas lembranças,
Escutar o arrebatamemto dos meus sonhos,
Aquecer-me nos beijos que me deste,
Sentir o calor das tuas mãos
E o enlaçar forte dos teus braços.
Nunca será tarde
Para viver o passado no presente
E desejar que o futuro seja o passado.
Mergulhar no rio dos teus olhos,
Banhar-me nas lágrimas de amor
Derramadas em momentos felizes.
Sim, porque não há somente lágrimas amargas,
Há lágrimas doces como o mel,
Quando são vertidas por olhos meigos,
Enternecidos por actos de Amor!...
9 de Dezembro de 2007
Adélia Barros


sábado, 8 de dezembro de 2007

AMEI-TE







Amei-te na Primavera
Sob a cerejeira florida,
Sentindo o perfume da hortelã
Intenso e refrescante
Que estimulava o desejo
De amar e ser amada.

Amei-te no Verão
À sombra daquela velha tília
A vergar de flores perfumadas,
Ricas em néctar
Que as abelhas procuravam
Com a mesma avidez
Com que trocávamos nossos beijos.

Amei-te no Outono
Sobre um tapete fofo e macio
De folhas caídas,
Secas ,dum vermelho forte e quente,
Como quente e fogoso era o nosso amar.
Os primeiros ventos
Sacudiam as árvores
Como a querer roubar-lhe
Os segredos de amor
Que elas guardavam religiosamente.

Amei-te no Inverno,
Mas agora ,meu amor,
No calor do nosso leito,
Embalados pela música romântica
Que o velhinho aparelho transmitia.
À luz difusa do candeeiro
Nos olhávamos apaixonadamente
E fazíamos juras de amor eterno.

Foi assim
Nas quatro estações
Das nossas Vidas.
8 de Dezembro de 2007
Adélia Barros

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O ENTERRO DO CANÁRIO


Na sua gaiola branca

Vivia o belo canário.

No alto do seu poleiro

passava os dias mirando

Tudo o que o rodeava.

Tinha roupagem tão linda

Tão talhadinha a preceito

Duma cor tão chamativa

Que dava gosto olhá-lo.

Mal a manhã despontava

O nosso belo canário

Acordava toda a gente

Com afinados trinados.

Comia com delicadeza o seu alpiste,

Bebia gota a gota a água fresquinha

Colocada na pucarinha de louça.

A seguir ao seu repasto,

Tomava banho com gotinhas

Que apanhava com o bico

E lançava sobre as sedosas penas

Que ficavam mais suaves e luzidias.

Como ele apreciava a gema de ovo cozida!

E um raminho de erva milheira

Que meu Pai ,de vez em quando,

Colhia no campo junto do rego da água?

Eu mirava aquelas penas

De cor tão amarelinha

Que um dia fiz esta pergunta ingénua:

-Papá, o canário tem peninhas amarelas,

Porque come muita gema de ovo?

-Não ,minha filha, são desta cor,

Porque os pais também tinham peninhas desta cor!...

Eu adorava o meu lindo passarinho.

Deliciava-me com o seu melodioso canto.

Mas um dia, mas que dia tenebroso,

O querido canarinho

Apareceu caído na gaiola

De olhinhos cerrados

E biquinho pregado.

Não quis acreditar

No que os meus ouvidos escutaram:

-O passarinho morreu!...

Chorei copiosamente.

Segurei no meu amigo

Que durante muito tempo

Tinha feito parte do meu mundo encantado.

E ,para lhe demonstrar o meu amor,

Fui ,com os amigos,

Tratar do seu enterro.

Num cantinho do jardim

Fizemos uma cova

E enterramos ali o meu amiguinho

Que me deixou muitas saudades.

Cobrimos aquele espaço

Com muitas flores colhidas no jardim.

E para assinalar aquele lugar,

Que para mim ficou a ser sagrado,

Coloquei uma cruz que eu fiz com dois pauzinhos.

E que ninguém ousasse profanar

Aquele lugar santo

Onde o meu cantor de penas amarelas

Repousava agora sem poder contemplar

A luz do Sol ,comer a geminha do ovo

Que eu cri por muito tempo

Ser a causa daquela linda cor

Que lhe tingia as peninhas macias como seda!

E hoje bendigo aquele meu gesto,

Porque não duvido

Que o meu canário tinha alma

Como qualquer mortal!...

7 de Dezembro de 2007

Adélia Barros

sábado, 1 de dezembro de 2007

DOCINHO de ABÓBORA




Lá nos campos da quinta que me viu crescer,o milho e o feijão brotavam da terra ,ansiosos por verem a luz do Sol ,sentirem o seu calor que os faria desenvolver e tornar-se em plantas viçosas.
Mais tarde, os feijoeiros exibiriam,vaidosos, as vagens que penderiam dos seus frágeis e tenros caules que, num abraço atrevido ,se enroscariam nos milheiros, cujos peúnculos eram bastante mais robustos que os seus.
No alto dos caules dos milheiros nasceriam ,garbosas, as espigas de porte altaneiro .
No meio dos pés dos milheiros foram semeadas pevides de abóbora.Ao mesmo tempo que os milheiros e os feijoeiros iam crescendo ,o mesmo acontecia aos pés das abóboreiras.Mas estas plantas, cujos caules se desenvolvem rasteiramente, sentem a necessidade de procurar a luz que lhes é roubada pelos pés do milho e do feijão .Portanto, estendem os seus braços em direcção às beiradas dos campos .Estes ramos enchem-se de folhas largas e verdes e de flores em forma de câmpanulas , de cor amarelo-laranja.
Estas flores transformam-se em pequeninas abóboras que ,a pouco e pouco,vão crescendo,crescendo e se tornam em enormes frutos de cor amarelinha .

Eu gostava de visitar os campos,colher flores nas beiradas dos regos por onde corria a água que ia regar as "novidades".Era assim que eram designadas as diveras culturas.

Nas paredes, que separavam os campos, escorria a água que a terra não conseguia absorver.Aí as violetas e tufos de florinhas amarelas, a que chamávamos "Pascoínhas",desabrochavam ,cobriam os muros e inebriavam com o seu perfume quem por ali passava. De onde a onde viam-se abóboras pendentes dos muros.

As flores encantavam-me e tentavam-me. Não resistia e colhia lindos ramos que oferecia à minha Mãe ,mas não me esquecia da minha Professora.Sempre que levava um raminho de violetas para aquela querida Senhora que me ensinou as primeiras letras,ela ,carinhosamente ,colocava-o ao peito e exibia-o como se fosse um valioso troféu.

Mas outra coisa me espantava e me deixava perplexa:as abóboras, esses enormes frutos. Tão grandes, tão pesados e suspensos por uns caules tão tenros e frágeis.Como era possível que continuassem ali presos por cordas tão finas e nada as fizesse cair? Mais um prodígio da Mãe Natureza!...

Quando as abóboras atingiam a maturidade,eram roubados à planta-mãe que as havia feito nascer,crescer e desenvolver de tal modo que mal se podiam transportar.Eram levadas para o alpendre da casa e agora começavam a ser aproveitadas.Servem de alimento para as pessoas da casa que as consomem de variadas formas: em sopas macias e gostosas, em guisados de carne e muitos outros petiscos.

E no Natal os bolinhos de abóbora com açúcar e canela e muitas vezes com passas ,amêndoas e pinhões à mistura ?E aquele docinho de abóbora que se faz em jeito de compota ,mais ou menos espesso,com açúcar, pau de canela e algum sumo de limão e que ferve lenta e demoradamente ,até que atinja o ponto desejado? Como eu gosto destas iguarias feitas daqueles enormes frutos que me deixavam pasmada de admiração!

Sempre que tenho oportunidade ,dou comigo a fazer uma compotinha que conservo nuns pequenos frasquinhos para ser saboreada com umas bolachinhas e por vezes acompanhada de nozes ou amêndoas.

Lá na casa dos meus Pais ,quando a colheita era abundante, algumas abóboras eram dadas aos animais que as saboreavam com gosto.

Outras eram surripiadas ,sorrateiramente ,por mim e pelo meu irmão para fazermos máscaras que iluminávamos com velas e colocávamos de noite no caminho para assustar os transeuntes.Traquinices próprias da nossa tenra idade.

Recordar tudo isto ,dá-me imenso prazer e transpõe-me aos meus tempos de menina.

E haja muitas abóboras para confeccionar o docinho que ajuda a tornar a vida mais amena!...


segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Tamarilhos


No quintal duma vizinha
Havia uma árvore frondosa
Que me chamava a atenção
Sempre que por lá passava.
Tinha os seus ramos espalhados
Numa ramada tão alta
Que era preciso trepar
Com a ajuda duma escada
Para colher os seus frutos
A que os donos apelidavam
De "Tomates Brasileiros".
Algum tempo se passou
Até que tomei conhecimento
Que os famosos "tomates"
Eram bons comidos como os maracujás:
Em salada, abertos ao meio
E comidos à colher, com ou sem açúcar.
Certo dia, às compras num hipermercado,
Vi num expositor uma caixinha com os vermelhos frutos.
Não foi só a cor rubra que me chamou a atenção.
Foi o seu preço e sobretudo o seu nome
Que de tomates não tinha nada.
Na etiqueta eu li:"Tomarilhos".
E foi assim que eu passei a chamar-lhe.
Mas, pelos vistos, estava errada.
Agora ,através da INTERNET,
A que há pouco tempo tenho acesso,
Fiquei a saber que o seu nome científico
É:Tamarilho ou Tamarillo.
Tomates brasileiros,tomarilhos ou tamarilhos,
QUE importa?
Só sei que são muito bons e eu gosto!

27 de Novembro de 2007
Adélia Barros

Os meus primeiros dias de escola


Logo de manhã cedinho

Passava pelo caminho

Montada num jeriquinho

A senhora Professora

Que vinha de muito longe.

Debruçada na janela

Esta menina ladina

Mais parecia a Carochinha.

Mas em vez de questionar

Quem queria casar com ela,

Acenava com a mão

Em jeito de cumprimento.

Os dias foram passando.

Mas um dia, há sempre um dia,

Ela encheu-se de coragem

E na sua voz cantante

Ansiosa perguntou:

Ó Senhora Professora,

Posso ir para a sua escola ?

Eu gostava de aprender

A ler e a fazer contas!

Que idade tem a menina?

Mais parece um passarinho

Que há pouco deixou o ninho.

E já quer voar,voar

Sem medo de tropeçar

Nas pedras do seu caminho?

Eu não sou um passarinho,

Sou uma menina igual

Às que andam na sua Escola.

Se não tiver uma carteira

Para me sentar junto delas

Levo um banquinho de casa

E fico muito quietinha

Junto da senhora Professora.

Este singelo pedido calou fundo

No coração da Senhora

Que resolveu aceder e levar a pequenita.

Fui então só por uns dias

E lá levei um banquinho,

Pois não havia carteira

Onde pudesse sentar-me.

O tempo foi passando ,eu fui ficando

E aprendendo.

E a minha Professora, D. Alda era o seu nome,

Bendisse o dia em que me levou consigo.

26 de Novembro de 2007

Adélia Barros

Em jeito de esclarecimento:

domingo, 25 de novembro de 2007

MENINA TRAQUINA




Menina traquina
Brincava ,saltava ,corria
Nos campos verdejantes.
Colhia flores
Apanhava borboletas descuidadas,
Subia às árvores
Apanhava fruta
Ora verde ,ora madura
Fresquinha demanhã
Quente pela tarde.
Que dor de barriga
Gritava a menina.
Um chá de cidreira
Curava todos os males.
Tanto chá tomou
A menina traquina
Que depois que cresceu
Toma qualquer chá
Menos de cidreira
Tamanha aversão
Ou congestão lenta
Apanhou dessa tisana.
Hoje já não corre
Não sobe às árvores
Não faz traquinices
Com grande pesar.
Porque o peso dos anos
Não permite tais devaneios.

25 de Novembro de 2007




Adélia Barros


Lançamento do livro da Teresa-"CARDOS e QUIMERAS "

A Teresa ,gentilmente , convidou-me a ler um dos seus poemas. Escolhi o poema da pag. 22-"JÁ CORRI DEMAIS ".Não foi à toa que preferi este. Escolhi-o ,porque achei que eu me revia um pouco no seu conteúdo.Também eu corri demais ,porque a vida o exigiu .Porém ,agora é tempo de abrandar a marcha e saborear a vida.
Parabéns ,Teresa, continue a escrever e conte comigo para ler os seus poemas.
Um beijo da amiga ,
Adélia

25 de Novembro de 2007

sábado, 24 de novembro de 2007

AS DESFOLHADAS DO MILHO


O Outono é uma das estações do ano mais rica em colheitas agrícolas:colhem-se variados frutos ,legumes e hortaliças.É também nesta época que se faz a colheita do milho .Na quinta dos meus Pais havia bastante milho para ser colhido .Nem todos os campos eram semeados ao mesmo tempo ,portanto ,as espigas iam amadurecendo com intervalo de alguns dias.
Consoante ficavam prontas ,iam sendo colhidas. Era uma intensa azáfama. Todos eram poucos para colher as espigas de cada campo.Enquanto uns cortavam as espigas e as colocavam em grandes cestos ,outros transportavam-nas às costas para a eira ,se estivesse bom tempo, ou então para um grande salão ,se houvesse ameaça de chuva.
À noite ,no fim do jantar, juntavam-se os amigos da vizinhança, para dar início à desfolhada que consistia em livrar as douradas espigas do folhelho que as revestia .
Este trabalho redundava numa animada festa.Toda a gente se sentava no chão à volta do monte das espigas e cada um procurava desfolhar o maior número possível de maçarocas para que a faina acabasse depressa. Todos estavam atentos ,porque ,se algum dos participantes encontrasse uma espiga vermelha ,tinha de correr a roda ,dando um abraço em cada um.E não havia desculpas!...Mas não ficava por aqui a brincadeira. De vez em quando aparecia uma espiga cujos grãos eram dourados ,pintalgados de vermelho.E então a brincadeira redobrava de intensidade:agora , o felizardo que encontrasse uma espiga assim ,tinha de ir roubar um beijo a cada um dos presentes. Era ver como alguns mais envergonhados procuravam esquivar-se ao cumprimento da tradição.Mas por fim tudo se resolvia a contento.
Por que razão estavam todos ansiosos pelo fim do trabalho?É que havia sempre um ou mais tocadores de concertina ou viola que animavam a festa com as suas músicas e toda a gente dançava. Aparecia sempre alguém que cantava ao desafio e o serão redobrava de entusiasmo.
A noite já ia alta quando a função acabava, mas antes da retirada era servida uma pequena merenda que constava de broa ,azeitonas, sardinhas e a famosa pinguinha do maduro que aquecia os corações e ajudava na viagem de regresso a casa.
E eu não perdia nem um minuto desta faina:ajudava a colher as espigas ,desfolhava as que podia e participava em todas as brincadeiras.Era, sem dúvida, a participante mais animada.
Quando terminava uma desfolhada ,esperava ansiosa pela próxima.
Eram fainas animadas ,mas que actualmente não se repetem ,porque todo o trabalho está mecanizado.Porém , é com muito prazer que relato estes trabalhos que ,embora penosos, davam imensa satisfação a quem os executava.
25 de Novembro de 2007
Adélia Barros




quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O MEU PRIMEIRO GUARDA-CHUVA E OS MEUS TAMANQUINHOS DE ESTIMAÇÃO





A memória é um dom maravilhoso com que a Natureza nos brindou. É com a sua ajuda preciosa que consigo reviver o passado e deliciar-me com lembranças de episódios que povoaram a minha meninice.
Eu era uma menina muito feliz. Vivia rodeada de carinhos e nada me faltava. Tinha brinquedos ,roupa bonita, refeições a horas ,cuidados médicos e tudo o que uma criança necessita para crescer saudável de corpo e alma .
Mas ,como todas as crianças ,fazia birras e tinha os meus desejos secretos .E eu tinha um desejo que guardava para mim como se fosse um tesouro .
Lá na minha aldeia ,quando chegava o Inverno e com ele a chuva ,a maior parte das pessoas usava
umas tamancas que protegiam os pés da humidade e os conservavam quentes .Este calçado era feito de cabedal e a parte inferior que assentava no chão era de madeira ,cardado de tachas para que não se rompesse. E quando o chão era de pedra as tachinhas faziam um barulho peculiar como se fossem executar um sapateado.
Mas para que a chuva não caísse na cabeça, usavam os guarda -chuvas .Eu olhava apaixonadamente esta situação: tamanquinhas nos pés e guarda-chuvas abertos .E pensava em silêncio :"como eu me sentiria feliz se tivesse umas soquinhas e um guarda-chuva ".
E sempre que chovia ,eu sentia-me a criatura mais infeliz da face da terra .Tentava ,às escondidas ,calçar as tamancas da minha Mãe , agarrar o seu guarda-chuva e sair para o quintal. Mas esta aventura acabava sempre em tragédia :uma queda e uma forte molhadela .
Quando ,ao fim de semana ,o meu Pai regressava a casa , minha Mãe contava-lhe as minhas traquinices .Meu Pai delirava com os relatos da minha mãe ,compreendia quais os meus desejos e procurava ,quase sempre ,satisfazê-los .E num dos fins de semana ,que eu sempre aguardava com mal contida ansiedade ,meu Pai surpreendeu-me com um presente que me encheu de felicidade: umas tamanquinhas lindas que me assentaram que nem uma luva e um guarda-chuva vermelhinho com flores adequado à minha estatura .
E para cúmulo da mjnha felicidade chovia nesse dia. Tinha de fazer a estreia dos meus pertences. Começou aqui uma pequena briga: minha Mãe não queria que eu fosse para a chuva, mas meu Pai achou que eu tinha de satisfazer o meu desejo .E lá fui eu de tamanquinhas nos pés e guarda-chuva em riste pronta para o que desse e viesse .Escusado será dizer ,que só regressei a casa depois duma grande molhadela .Encharcada até à medula ,mas de alma cheia de alegria e felicidade .
Um rico banho quentinho evitou uma constipação .Mas não ficou por aqui a minha odisseia.Tiveram de secar o guarda-chuva e as soquinhas ,porque eu quis dormir com os meus objectos de estimação .
E como eu dormi tranquila e feliz!
Obrigada memória que me fazes tão feliz quando recordo o meu passado .Quase tão feliz como nos momentos em que vivi ,realmente,essas situações .
21 de Novembro de 2007
Adélia Barros


terça-feira, 13 de novembro de 2007

FEIRA de S. ANDRÉ












A foto das cestas foi tirada e cedida pela minha amiga Maria Teresa .
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Em Mesão Frio, o meu concelho, há uma feira anual que começa no dia 30 de Novembro e prolonga-se até ao dia 8 de Dezembro, inclusivé.
Esta feira tem a denominação de "Feira de Santo André" em homenagem a este Santo Padroeiro do concelho.
Esta tradicional feira remonta a tempos muito antigos. Talvez a sua origem seja para além da ocupação visigótica em terras de Mesão Frio .
O local primitivo onde se realizavam as feiras era na antiga " Praça da Erva ", hoje chamada " Praça do Pelourinho".
Mais tarde o local da feira mudou-se para a avenida principal chamada " Avenida Conselheiro José Maria Alpoim ".
Tenho muito boas recordações desta feira,desde muito pequenina.
Quando começavam os frios do Inverno,toda a gente ansiava pela feira de Santo André.
Nesta tradicional época, Mesão Frio adquiria um movimento extraordinário. Centenas largas de pessoas acorriam à Vila para fazerem as suas compras, para confraternizarem e rever amigos e familiares que só nesta altura afluiam à terra natal.
Esta feira ocorria pouco tempo depois do fim das vindimas, faina em que os trabalhadores rurais ganhavam mais um pouco ,e poucos dias antes das festas do Natal, Ano Novo e Reis.Então esta boa gente aproveitava a feira para se abastecer de alguns agasalhos.Percorriam as barracas de roupa onde os feirantes exibiam as célebres samarras com golas de pele de raposa, as capas alentejanas e os sobretudos. Outras barracas vendiam agasalhos para usar nas camas:as mantas de trapos as cobertas de estopa e os famosos cobertores de papa,feitos de lã de ovelha.
Mas não só havia barracas de roupas, mas também de loiças de todos os tipos,de cestaria que era feita pelos cesteiros da terra e arredores,de ourivesaria ,quinquilharia, cutelaria e muitas barracas de brinquedos.
Escusado será dizer que era nestas barraquinhas de brinquedos que eu me detinha demoradamente.Namorava as bonecas de todos os tamanhos e feitios,as loucinhas de barro e alumínio ,os fogões e as máquinas de costura fabricados de lata e todos os brinquedos que se coadunavam com o meu eterno feminino.
Para me verem feliz, os meus Pais brindavam-me com algumas peças que iriam fazer as minhas delícias nas próximas brincadeiras.
Os carroceis,as barracas das rifas, de tiro ao alvo e outras diversões ,nunca deixavam de abrilhantar estas feiras.
Outros eventos ocorriam nestes dias de feira.Logo no dia trinta as festas abriam com o concurso pecuário onde eram escolhidos os melhores exemplares de animais bovinos ,asininos e cavalares.
No dia um assistia -se aos Passeios Equestres e eram premiados os melhores cavalos.
Como era lindo ver todos os animais enfeitados de fitas multicores e os seus donos vestidos com os seus fatos domingueiros ,chapéus também ornados de fitas e penachos coloridos !...
Muitas pessoas se deslocavam à vila nesses dias para assistirem aos desfiles dos animais que redundavam num colorido e apreciado espectáculo.
Durante os dias de feira as Casas de Pasto serviam ,entre outros pratos ,a típica " Marrã ",que era ,nem mais nem menos,carne de porco frita com batatinhas loiras naquela gordura e bem regada com o bom vinho da região.
Não faltavam os famosos biscoitos da Teixeira e os rebuçados da Régua.Estas duas iguarias tinham as denominações que já referi, mas eram fabricados lá na terra pelas "Biscoiteiras" que os transportavam à cabeça em grandes cestos forrados com alvas toalhas de linho.
Quase todas as pessoas compravam oa saborosos doces .Era pitoresco vê-las com as folhetas de biscoitos embrulhadas em papel branco e transportadas debaixo do braço.
Pela tardinha , os compadres e os amigos regressavam a casa bem dispostos ,alegres e quentinhos com a ajuda da boa pinga.
Durante toda a minha infância,adolescência e juventude, nunca deixei de assistir a estas tradicionais e maravilhosas feiras. Ainda hoje conservo alguns objectos adquiridos nas barracas montadas na feira.
Mesmo depois de adulta, eu não abdicava das minhas visitinhas à feira. Sabia que havia sempre novidades para apreciar e comprar e, sobretudo, encontros com amigos e familiares que ,havia algum tempo ,não disfrutava da sua companhia .
E ,já depois de ser Mãe ,comecei a levar comigo os meus filhos .E tenho um episódio que se passou com o meu filho mais velho tinha ele apenas três anos.
Estavamos a oito de Dezembro ,dia Santo ,e último dia de feira .Tínhamos ido passar o dia com os meus Pais para ,após o almoço ,irmos até à vila fazer as despedidas das festas .
Apareceram também para almoçar os padrinhos do meu filho .Quando nos preparávamos para sair ,os meus compadres tiveram a infeliz ideia de darem ao afilhado dez escudos para que ele comprasse uma prenda na feira .E por que razão eu digo "infeliz ideia"? Exactamente ,porque quando chegámos junto das barracas dos brinquedos ,o meu filho queria comprar a feira inteira.E quando eu lhe dizia que não podia ser ,ele ,com toda a convicção ,respondia:"mas eu tenho dinheiro que me deu o meu padrinho"!
Para o convencer que os famosos dez escudos não chegavam para tudo o que ele queria ,foi uma luta. Ele queria uma gaita ,uma espingarda ,uma bola e uma infinidade de brinquedos .Mas ,por fim ,contentou-se com um bombo , uma gaita ,uma bola e um carrinho.
Mais tarde , a minha filha, pequenina ainda ,delirava com uma bonequinha, um fogão ,loucinha de barro ou alumínio ,uma máquina de costura ,enfim ,tudo o que se relacionava com os seus interesses de menininha.
Estas lembranças perduram na minha memória e é com muito prazer que as transmito aos meus netos e a todos os jovens que ,porventura ,as leiam.
Ainda se realizam estas feiras , com outros moldes, mas mantendo sempre as tradições seculares.
Sempre que posso ,vou matar saudades à feira e rever amigos que ,como eu ,ainda por cá andamos.
Faz bem recordar, porque ,como sabemos, recordar é viver.


14 de Novembro de 2007
Adélia Barros